MARIANNE MOORE
MARIANNE MOORE
NO SWAN SO FINE
“No water so still as the
dead fountains of
Versailles." No swan,
with swart blind look askance
and gondoliering legs, so fine
as the chinz china one with fawn-
brown eyes and toothed gold
collar on to show whose bird it
was.
Lodged in the Louis Fifteenth
candelabrum-tree of cockscomb-
tinted buttons, dahlias,
sea-urchins, and everlastings,
it perches on the branching foam
of polished sculptured
flowers — at
ease and tall. The king is dead.
NÃO HÁ CISNE
TÃO BELO
"Não há água tão quieta como as
fontes mortas de Versalhes”.
Nem cisne tão
belo, esguio olhar cego de esguelha
e pernas gondoleantes, como
esse de porcelana com olhos
foscos
de fauno e um colar auridenteado
para testificar de quem foi esta ave.
Encastoado numa árvore-candelabro
Luis XV com botões em flor
cor de cristal-de-galo, dálias,
ouriços do mar e semprevivas,
pousa em galhos de espuma,
horto
de esculturadas e polidas
flores — altivo e plácido. O rei está morto.
AN EGYPTIAN PULLED GLASS BOTTLE
IN THE SHAPE OF A FISH
Here we have thirst
and patience, from the first,
and art, as in a wave held up for us to see
in its essential perpendicularity;
not brittle
but
intense—the
spectrum, that
spectacular and nimble animal the fish,
whose
scales turn aside the sun's sword by their polish.
UMA GARRAFA EGÍPCIA DE VIDRO SOPRADO
EM FORMA DE PEIXE
Há uma sede, que cresce,
desde o início, da paciência
e da arte, como se uma onda se
detivesse
na perpendicularidade de sua
essência;
não frágil, todavia,
intensa — o espectro em seu feixe
de cores, e, espetacular e
ágil, o peixe,
espelho-escamas onde a espada
do sol se desvia.
A JELLY-FISH
Visible, invisible,
a fluctuating charm
an amber-tinctured amethyst
inhabits it, your arm
approaches and it opens
and it closes; you had meant
to catch it
and it quivers;
you abandon your intent.
ÁGUA-VIVA
Visível, invisível,
um
encanto flutuante
uma ametista âmbar-viva
a
habita, teu braço
se aproxima e ela abre
e
fecha; o pensamento
de agarrá-la e ela estremece;
abandonas teu intento.
ARTHUR
MITCHELL
Slim dragonfly toorapid for the eye
to cage —
contagious gem of virtuosity
—
make visible, mentality.
Your jewels of mobility
reveal
and veil
a peacock-tail.
ARTHUR
MITCHELL*
Libélula
sutil
rápida
demais para o olho
enjaular —
gema
contagiosa de virtuosidade —
visibiliza
a mentalidade.
Tuas
mobilidades de esmeralda
revelam
e velam
pavão e cauda.
*Arthur Mitchell, 1934 – famoso dançarino negro americano de
música moderna.
Traduções: Augusto de
Campos
*
Marianne Moore (1898-1986), poeta norte-americana, autora de Poemas (1921), onde revela forte sensibilidade visual aliada ao experimentalismo, fraturando a palavra e criando novas associações sonoras, como no poema O Peixe (“Nad- / ando em negro jade. / Conchas azul-marinhas, uma / só / sobre montes de pó, / a abrir e fechar como / que- / brado leque”, em tradução de Augusto de Campos). A autora, que exerceu grande influência na vanguarda literária dos EUA, também foi tradutora, vertendo para o inglês as Fábulas de La Fontaine. |