ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

MARIO TREJO

 

ALIMENTO PROHIBIDO

 

Y ahora con ustedes el tema de la devoración

de lo evidente hasta la obscenidad

del hombre arrojado a un mediodía de reptiles

empujado al olor verdadero

las raices del sueño

la sobriedad de la historia

que ayer llamé finura o pestilencia

 

No

No es una pesadilla

Los tigres tascan su metal

el águila se entreabre hacia su presa

el aire se prueba de espacio

La libertad es la única amenaza

 

Jungla o museo

la opción yace aquí mismo

 

Elijo simplemente

el hambre sin mandíbulas

 

 

 

ALIMENTO PROIBIDO

E agora com vocês o tema da devoração
do evidente até a obscenidade
do homem atirado a um meio-dia de répteis
empurrado ao odor verdadeiro
as raízes do sonho
a sobriedade da história
que ontem chamei finura ou pestilência

Não
Não é um pesadelo
Os tigres tascam seu metal
a águia se entreabre até a presa
o ar prova o espaço
A liberdade é a única ameaça

Selva ou museu
a opção jaz aqui mesmo

Escolho simplesmente
a fome sem mandíbulas

 

 


ABAJO LAS MÁSCARAS


Hablando de Musil, Broch recordaba que para

Hofmannsthal
el mejor escondite de la profundidad es la superficie.
Rimbaud ejerció durante tres años su sarampión poético.
La poesía no se repuso, todavía.
Gallois expulsó su ecuación la noche previa a su muerte
en un duelo.
Tenía veinte años. La ecuación persiste.
Hokusai pedía ciento diez años de vida para que todo el
mar cupiese en un punto de su pincel de marta sibilina.
Para J.B., la vida duraba menos que un balazo. Jane

Bowles: qué angustia elegir en un menú, cuando hay
tan poco tiempo!
Atención. El primer suicida fracasó. En una noche que
aún olía a dientes de sable, la rama no resistió a su peso.
Pero el gesto perdura. Descubrió la cultura profunda, la
que dice no desde una superficie que nos enceguece.
Avancemos, espada en alto, entre esta selva de antifaces.

 

 

 

ABAIXO AS MÁSCARAS

 

Falando de Musil, Broch recordava que para

Hofmannsthal,

o melhor esconderijo da produndidade é a superfície.

Rimbaud exerceu durante três anos seu sarampo poético.

A poesia não se repôs, todavia.

Gallois expulsou sua equação na noite que antecedeu sua morte

em um duelo.

Tinha vinte e três anos. A equação persiste.

Hokusai pedia cento e dez anos de vida para que todo o

mar coubesse em um ponto de seu pincel de marta sibilina.

Para J.B., a vida durava menos que um disparo. Jane

Bowles: que angústia escolher em um menu quando há

tão pouco tempo!

Atenção. O primeiro suicida facassou. Em uma noite que

ainda exalava a dentes de sabre, o galho não resistiu ao seu peso.

Mas o gesto perdura. Descobriu a cultura profunda,

a que diz não a partir de uma superfície que nos cega.

Avancemos, espada ao alto, por entre esta selva de antifaces.

 

 

 

RAZONES PARA SOBREVIVIR

 

1.

 

Los monjes comenzaron a pasarse melancólicamente

una bola de fuego. No había alegría alguna en ese delicado

ejercicio, tantas veces repetido. El fuego, cuando no purifica,

deviene esclavitud. Pronto llegaría mi turno. Para

que huir? Castigo para los que no practican su pureza

con ferocidad.

 

 

2.

 

 

Ha llegado por fin el momento propicio. Soy presa de mi

             libertad.

Sin profecías ni olvidos predilectos.

Que las palabras sirvan entonces para hacer perdurar

un instante arreciado por otros

-eternos pero irrecuperables-

en cuyas sombras solamente veremos

razones para sobrevivir

objeciones que no serán escuchadas.

 

 

 

RAZÕES PARA SOBREVIVER

 

1.

 

Os monges começaram a passar melancolicamente

uma bola de fogo. Não havia alegria alguma nesse delicado

exercício, tantas vezes repetido. O fogo, quando não purifica,

torna-se escravidão. Logo chegaria a minha vez. Para

que fugir? Castigo para os que não praticam sua pureza

com ferocidade.

 

 

2.

 

 

Chegou finalmente o momento propício. Sou presa de minha

             liberdade.

Sem profecias nem esquecimentos prediletos.

Que as palavras sirvam então para fazer perdurar

um instante propagado por outros

-eternos mas irrecuperáveis-

em cujas sombras somente veremos

razões para sobreviver

objeções que não serão escutadas.

 

 

Traduções: Ana Maria Ramiro

 

 

*

 

 

Mario Trejo nasceu em 1926, em Buenos Aires. Poeta, ator, compositor e diretor cinematográfico. Integrou o grupo de poetas da revista Contemporânea (1949). Participou da direção do filme "Luz y sombra" (1948), foi editor da Cinedrama, revista de cinema e teatro contemporâneos (1953), teve poemas traduzidos para o inglês e gravados por Jeanne Lee, com música de Miles Davis e Aretha Franklin (New York, 1972). Compôs músicas com Astor Piazzola. Para o teatro, escreveu "No hay piedad para Hamlet" (1948-1952), e para o cinema, destaca-se a sua participação como roteirista e ator no filme "Martín Fierro", de Bernardo Bertolucci. Vive em San Sebastián, Espanha.

*

 

retornar <<<

[ ZUNÁI- 2003 - 2006 ]