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MAX DAUTHENDEY
QUATRO POEMAS DE
ULTRA VIOLETT
ABEND
Schwarze Moose.
Erdgeruch in lauen Flocken.
Schmale dünne Silberblüten
Und Gesang von bleichen Glocken.
Welke Feuer löschen leise.
Nur ein Atmen warmer Flut.
Blühend schmelzen rote Meere,
Dunkle Sonnen saugen Blut.
ANOITECER
Musgo negro.
Cheiro de chão em cálidos grânulos.
Grelos de prata finos e frágeis,
E o cântico de brancas campânulas.
Mudos se apagam os fogos murchos.
Um sopro só da morna maré.
Florindo, os mares rubros derretem;
Sugam sangue os sóis escuros.
WOLKENSCHATTEN
Schwarz schleichen Efeuwellen
Über Goldlackranken.
Im Glimmersande rauchen
Violenschwüle Quellen.
Aschenfalter wehen und tauchen
Durch den klingenden Äther.
Die Gesänge der Lilien
Wanken und flehen.
SOMBRA DE NUVENS
Negras rastejam as ondas de hera
Sobre pérgulas de laca dourada.
Nas areias faiscantes, fumegam
Nascentes cálido-violetas.
Borboletas de cinza oscilam e caem
Por entre o éter ressonante.
Os cânticos dos lírios
Inclinam-se e suplicam.
IM BUCHENWALD
Du gehst tief auf dem goldenen Grunde der Seen.
Lautlos steigen in Strahlen graue Korallen,
Fließen Phosphorfeuer von grünen Kristallen,
Sinken Perlen auf den braunwelken Grund.
Draußen von silbernen Sonnenufern
Neigen sich Glocken
Und locken mit blauen Kelchen
Die smaragdene Tiefe.
NO BOSQUE DE FAIAS
Andas fundo sobre o chão dourado dos mares.
Insonoro ascendem, em raios, grisalhos corais,
Fogos fosfóreos fluindo de verdes cristais,
Pérolas afundam no solo murcho-marrom.
Lá fora, das margens argênteas do sol
Pendem as flores-de-sino,
Seduzindo com cálices azuis
O fundo esmeralda.
KUCKUCKRUF
Braune Blätter spülen auf dem Schlamme.
Aus den Schattenschluchten
Mondnachtaugen einer Hindin.
Scharlach, schwül, von kalten Schwämmen.
Zwischen schwarzen Wurzeldämmen
Eine blaue Erdgasflamme
Wankt
Und
Löscht.
O CUCO CHAMA
Folhas foscas se lavam na lama.
Do fosso de sombras saem
Os olhos noite-lua de uma hindu.
Escarlate, langue, de álgidas água-vivas.
Entre os negros diques de raízes
Uma chama de gás azul
Tremula
E se
Apaga.
Traduções: André Vallias
Max Dauthendey (1867-1918), poeta, escritor, dramaturgo e pintor, nasceu em Würzburg, Alemanha, filho de um pioneiro da fotografia que fizera fortuna na côrte de São Petersburgo. Ligado ao círculo de poetas naturalistas em torno de Richard Dehmel,
estreiou na poesia com Ultra Violett (1893), seu livro mais radical, onde antecipa as sinestesias e "metáforas absolutas" de um Georg Trakl. Percorreu o mundo em incontáveis viagens para saciar sua sede de paisagens exóticas e fugir aos credores. Quando
a Primeira Grande Guerra estourou, ficou retido em Java, onde veio a falecer, acometido de malária.