La texture
fine et délicate des nuages
Disparaît derrière les arbres ;
Et doudain c'est le flou qui précède un orage
:
Le ciel est beau, hernétique comme un marbre.
A fina e delicada textura das nuvens
Desaparece por detrás das árvores;
E súbito há algo que precede a chuva:
O céu é belo, hermético como mármore.
* * *
UNE
SENSATION DE FROID
Le matin était clair et absolument beau ;
Tu voulais préserver ton indépendance.
Je t'attendais em regardant les oiseaux :
Quoi que je fasse, il y aurait la souffrance.
UMA SENSAÇÃO DE FRIO
A manhã
era tanto bela quanto pálida;
Você pensava só na sua independência.
À sua espera, eu ia olhando para os pássaros:
Em tudo que eu fizer haverá penitência.
* * *
LA FILLE
La fille aux cheveux noirs et aux lèvres très
minces
Que nous connaissons tous sans l'avoir recontrée
Ailleurs que dans nos rêves. D'un doigt sec elle pince
Les boyaux palpitants de nos ventres créves.
A MOÇA
A moça de cabelo negro e finos lábios
Que todos conhecemos sem tê-la encontrado
Senão em sonhos. Dedos secos, ela pinça
As tripas palpitantes de nossas barrigas.
* * *
Le long
fil de l'oubli se déroule et se tisse
Inéluctablement. Cris, pleurs et plaintes.
Refusant de dormir, je sens la vie qui glisse
Comme un grand bateau blanc, tranquille et hors d'atteinte.
O longo fio do esquecer desfaz-se e faz-se
Inelutável. Gritos, choros e gemidos.
Sem dormir, sinto a vida que se liquefaz
Feito um imenso barco branco indo tranqüilo.
* * *
Traces
de la nuit.
Une étoile brille, seule,
Preparée pour des lointaines eucharisties.
Des
destins se rassemblent, perplexes,
Immobiles.
Nous
marchons je le sais vers des matins étranges.
Restos
da noite.
Uma estrela brilha, só,
Pronta para longínquas eucaristias.
Destinos
se confundem, perplexos,
Imóveis.
Caminhamos,
eu sei, rumo a estranhas manhãs.
* * *
Tu parlais
sexualité, relations humaines. Parlais-tu vraiment,
en fait ? Un brouhaha nous environnait ; des mots semblaient
sortir de ta bouche. Le train pénétrait dans
un tunnel. Avec un lérger grésillement, un
lérger retard, les lampes du compartiment s'allumèrent.
Je détestais ta jupe plissée, ton maquilage.
Tu étais ennuyeuse comme la vie.
Le monde apparaît, plus que jamais, homogène
et stable. Le soleil de neuf heures coule lentemente dans
la rue en pente douce ; les immeubles anciens et modernes
se côtoient sans animosité marquée.
Parcelle de l´humanité, je suis assis sur un
banc. Le jardin a été rénové
récemment ; on a installé une fontaine. Je
ressens, sur ce banc, ma présence humaine ; ma présence
humaine en face de la fontaine.
Il s'agit
d'une fontaine moderne ; l'eau s'écoule entre des
hémisphères gris ; elle tombe, avec lenteur,
d'un hémisphère à l'autre. Entre des
sphères, elle ne pourrait que glisser ; mais le choix
de l'architecte s'avère plus fin : l'eau remplit
progressivemente les hémisphère supèrieurs
; ceux-ci remplis, ils dégouttent doucement vers
les hémisphères inférieurs ; au bout
d'un temps qui me paraît variable, tout se vide d'un
seul coup. Puis l'eau coule à nouveau, et le processus
reprend. Avons-nous affaire à une métaphore
de la vie ? J'en doute. Plus probablement l'architecte a-t-il
voulu mettre en scène sa vision du mouvement perpétuel.
Comme beaucoup d'autres.
Você falava sobre sexualidade, relações
humanas. Será mesmo? Um burburinho nos envolvia;
palavras pareciam sair de sua boca. O trem penetrava num
túnel. Com um pouco de trepidação,
um pouco de atraso, as luzes do compartimento acendiam.
Eu detestava sua saia plissada, sua maquiagem. Você
era enfadonha como a vida.
O mundo
se apresenta, mais do que nunca, homogêneo e estável.
O sol das nove horas desce lentamente pela ladeira; os prédios
antigos e modernos estão lado a lado sem animosidade
alguma. Pedaço da humanidade, estou sentado num banco.
Recentemente o jardim foi reformado, instalaram uma fonte.
Reconheço, sobre este banco, minha presença
humana, minha presença humana frente à fonte.
Trata-se
de uma fonte moderna; entre hemisférios cinzas, a
água escorre, cai com lentidão de um hemisfério
a outro. Entre esferas, ela poderia somente descer, mas
a escolha do arquiteto se revela mais sutil: a água
preenche progressivamente os hemisférios superiores;
uma vez preenchidos, gotejam docemente sobre os hemisférios
inferiores; ao fim de um tempo que me parece variável,
tudo se esvazia de uma só vez. Depois a água
escorre novamente, e o processo recomeça. Seria isso
uma metáfora para a vida? Duvido. É mais provável
que o arquiteto tenha desejado pôr em cena sua visão
do movimento perpétuo. Como muitos outros.
*
Tradução:
Leonardo Gandolfi e Vanessa Massoni da Rocha