ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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MINA LOY



OMEN OF VICTORY

Women in uniform
relaxed for tea
under a shady garden tree
discover
a dove´s feather
fallen in the sugar.

PRESSÁGIO DE VITÓRIA

Mulheres de uniforme
tranqüilas para o chá
sob uma árvore sombrosa do jardim
descobrem
uma pena de pombo
caída no acúçar.

 

MARBLE

Greece has thrown      white shadows
sown
their eyeballs with oblivion

A flock of stone
Gods
perched upon pedestals

A populace
of athlete lilies
of the galleries

scoop the facades for space
with spiral curves
of idol substance
in the silence

A colonnade
Apollo haunts apollo
with the shade
of a lost hand

MÁRMORE

Grécia arremessou      sombras brancas
semeou
seus globos oculares com oblívio

Um rebanho de pedra
Deuses
empoleirados sobre pedestais

Uma população
de lírios de atletas
das galerias

escava como fachadas por espaço
com curvas espirais
da substância do ídolo
no silêncio

Uma colunata
Apolo caça Apolo
com a sombra
de uma mão perdida


GERTRUDE STEIN

Curie
of the laboratory
of vocabulary
    she crushed
the tonnage
of consciousness
congealed to phrases
    to extract
a radium of the word


GERTRUDE STEIN

Curie
Do laboratório
do vocabulário
    ela esmagou
a tonelagem
da consciência
coagulada em frases
    para extrair
um rádio da palavra



POE

a lyric elixir of death

    embalms
    The spindle spirits of your hour glass loves
                                    On moon spun nights

sets
    icicled canopy
    for corpses of poetry
    with roses and northern lights

    Where frozen nightingales in ilix aisles

    sing burial rites


POE

um elixir lírico da morte

    embalsama
    os espíritos do eixo dos seus amores de ampulheta
                                            em noites claras de luar

solidifica
    dossel de pingentes de gelo
    por corpos de poesia
    com rosas e luzes do norte

    Onde rouxinóis congelados em corredores de vertigem

    cantam ritos fúnebres

 

Time-Bomb

The   present    moment
is    an     explosion   ,
a    scission
of   past   and   future

leaving
those   valorous   disreputables   ,
the   ruins   ,

sentinels
in   an   unknown   dawn
strewn   with   prophecy   .

Only   the   momentary
goggle   of   death
fixes   the   fugitive
momentum   .


Tempo-Bomba

O    momento    presente
é    uma    explosão    ,
uma    divisória
de    passado    e    futuro

deixando
aqueles    desrespeitáveis    valorosos,
as ruínas    ,

sentinelas
em    um    amanhecer    desconhecido
espalhado    com    profecia .

Somente    a    momentânea
luneta    da    morte
marca    o    fugitivo
momento    
.


O Hell

To clear the drifts of spring
Of our forebear's excrements
And bury the subconscious archives
Under unaffected flowers

Indeed-

Our person is a covered entrance to infinity
Choked with tatters of tradition

Goddesses and young Gods
Caress the sanctity of Adolescence
In the shaft of the sun.


Oh Inferno

Limpar as nevascas da primavera
Dos excrementos dos nossos ancestrais
E enterrar os arquivos inconscientes
Sob simples flores

Além disso-

Nossa pessoa é uma entrada coberta para infinidade
Sufocada com fiapos da tradição

Deusas e Jovens Deuses
Acariciam a santidade da Adolescência
Nos raios do sol.



Lunar Baedeker

A silver Lucifer
serves
cocaine in cornucopia

To some somnambulists
of adolescent thighs
draped
in satirical draperies

Peris in livery
prepare
Lethe
for posthumous parvenues

Delirious avenues
lit
with the chandelier souls
of infusoria
from Pharoah's tombstones

lead
to mercurial doomsdays
Odious oasis
in furrowed phosphorous- - -

the eye-white sky-light
white light-district
of lunar lusts

Stellectric signs
"Wing shows on Starway"
"Zodiac carrousel"

Cyclones
of ecstatic dust
and ashes whirl
crusaders
from hallucinatory citadels
of shattered glass
into evacuate craters

A flock of dreams
browse on Necropolis

From the shores
of oval oceans
in the oxidized Orient

Onyx-eyed Odalisques
and ornithologists
observe
the flight
of Eros obsolete

And "Immortality"
mildews…
in the museums of moon

"Nocturnal Cyclops"
"Crystal concubine"
------
Pocked with personification
the fossil virgin of the skies
waxes and wanes-----


Guia Lunar

Um Lúcifer de prata
serve
cocaína na cornucópia

Para alguns sonâmbulos
de coxas adolescentes
ornados
em ornamentos satíricos

Anjos caídos de uniforme
preparam
Lethe
para novos-ricos póstumos

Avenidas delirantes
acendem-se
com as almas do lustre
da infusória
das tumbas do faraó

conduzem
para mercuriais dias do juízo final
Oásis odioso
em fósforo sulcado- - -

o branco-olho luminoso-céu
branco distrito luminoso
de luxúrias lunares

Sinais estelétricos
"Asa exibe na Via Celeste"
"Carrossel do zodíaco"

Ciclones
de poeira estasiada
e cinzas rodopiam
cruzados
de cidadelas alucinatórias
de vidro estilhaçado
em crateras evacuadas

Um aglomerado de sonhos
olha sobre Necropólis

Das margens
de oceanos ovais
no Oriente oxidizado

Odalistas com olhos de ônix
e ornitologistas
observam
o vôo
do obsoleto Eros

E "Imortalidade"
mofa…
nos museus da lua

"Ciclopes noturnos"
"Concubina de cristal"
------
Perfurada com personificação
a virgem fóssil dos céus
cresce e mingua--------


Tradução: Virna Teixeira

*

Mina Loy (1882-1966) nasceu em Londres, onde estudou artes plásticas, tendo obtido algum sucesso com suas pinturas, que chegaram a ser expostas no Salon d’Automne em Paris. Em 1916 mudou para a América, onde conheceu Marcel Duchamp e o grupo Dada de Nova Iorque. Extremamente controversa, foi rotulada de futurista, dadaísta, surrealista, conceitualista, modernista e pós-modernista. Excêntrica, “difícil” e visionária, tinha entre seus admiradores Ezra Pound, Marianne Moore, Gertrude Stein e William Carlos Williams. Publicou apenas dois livros e tornou-se reclusa nos seus últimos anos de vida. Morreu em 1966, antes de terminar uma biografia sobre Isadora Duncan.

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