NORMA COLE
RIPTIDE
There is a shadow over the city
the light, as usual faming and erasing
Just say you
dream fires each
night smoothing each
collapsing page from
the throat talking
in a series
of measures in
the high desert
the perfect life
in a series
of measured gestures
an invitation to
see the world
from a bridge
that burns in
the next night
CORRENTEZA
Há uma sombra sobre a cidade
a luz, como sempre evidenciando e apagando
Diga apenas que
sonha incêndios toda
noite suavizando toda
página que colapsa da
garganta falando
numa série
de medidas no
meio do deserto
a vida perfeita
numa série
de gestos medidos
um convite para
ver o mundo
de uma ponte
que queima na
noite seguinte
SUMOUD
Once I saw a bride standing in the sand…
– JEAN SAID MAKDISI, Beirut Fragments
Dust on the scales. A smith beating on an anvil. Rehearsal of the city state.
The idea was not to leave. Strands of my hair stick to your face, a steeply-tied interior with freshwater areas at the bottom. To write was to release meaning, concentration could mean resistance.
A stranger of mine, he spilled his drink. I took it as a sign. My village was erased from the map.
One crosses the road by the port. After the journey, warm bread covered with thyme and olive oil.
Undo the rules of the game, the green line which is the crossing. Children are tied to their beds so they can’t step on the shattered glass in their bare feet.
Turns back the information, a field of colored knots. No summary at all points. Choice or the illusion of choice. The good news, he’s not going blind.
SUMOUD
Uma vez vi uma noiva andando na areia…
– JEAN SAID MAKDISI, Beirut Fragments
Pó sobre as reguas . Um ferreiro batendo numa bigorna. Ensaio da situação da cidade.
A ideia era não partir. Fios do meu cabelo colados no seu rosto, um interior ultracompacto com áreas de água fresca no fundo. Escrever era dar significado, concentração poderia significar resistência.
Um estranho para mim, ele derramou a própria bebida. Vi como um sinal. Minha vila foi apagada do mapa.
Alguém atravessa a rua perto do porto. Depois da viagem, pão quente com tomilho e azeite de oliva.
Desfaz as regras do jogo, a linha verde que é o cruzamento. As crianças estão amarradas às camas para não pisarem no vidro estilhaçado com os pés descalços.
Devolve a informação, um campo de nós coloridos. Sumários em lugar algum. Escolha ou a ilusão da escolha. A boa notícia, ele não ficará cego.
ESTAR FOR HÉLIO OITICICA
They wore strips of tire along their limbs for that death dance, fabric striped like roof tiles, a cabin in Eden, small stars in the shape of proverbs
Checks and balances her thoughts myself, organdy or tulle crumpled and bunched around a rolled core of burlap upon a reflective cylindrical horizontal base
The shorn wrapped woman opens the glass bólide. Rose pigment. Floral Pattern on the one hand, cape on the other. Overlay
He wanted to emphasize the other box too. In order to do this, he needed Milton. His friend had died in the sea
He needed to celebrate the bandit, Lycidas. The top of the box held between two hands, diagonal slash a lighter gray across the lid
The open box above, small abstractions piled inside. Another lighter smaller object to the right and on the following page
Space relief underneath, the slanted opaque illusionary planes on metal stands. On glass. Two round objects seen from the side, urn-like, from above, sphincter-like, pebbled
At least four kinds of cloth from white to dark, a striped one with a sheen to it. Held smiling above the gravel and the shadowed grass of Eden
ESTAR PARA HÉLIO OITICICA
Elas vestiam faixas em volta dos braços para aquela dança da morte, tecido listrado parecendo telhas, uma cabana no Éden, estrelinhas em forma de provérbios
Confere e pondera seus pensamentos eu mesma, organdi ou tule amassado e enfiado em volta de um centro feito de estopa sobre uma base horizontal cilíndrica reflexiva
A mulher tosada embrulhada abre o vidro bólide. Pigmento rosado. Estampa floral numa mão, manto na outra. Cobertura
Ele queria enfatizar a outra caixa também. Para isso, precisava de Milton. O amigo dele tinha morrido no mar
Ele precisava celebrar o bandido. O topo da caixa seguro entre duas mãos, no corte diagonal um cinza mais claro sobre a tampa
A caixa aberta acima, pequenas abstrações empilhadas dentro. Outro objeto mais leve e menor à direita na página seguinte
Espaço aberto abaixo, os aviões ilusórios opacos inclinados nas plataformas de metal. No vidro. Dois objetos redondos vistos de lado, tipo-urna, tipo-esfíncter, rugosos
Pelo menos quatro tipos de pano de branco a escuro, um listrado com brilho. Sorrindo pendurado acima das pedras e da grama sombreada do Éden
Tradução: Flávia Rocha
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Norma Cole nasceu em Toronto, no Canadá. Graduou-se em Francês pela Universidade de Toronto em 1967, mudando-se para a França a tempo de absorver a atmosfera revolucionária do Maio de 1968. Retornou a sua cidade natal no início dos anos 1970 e migrou para San Francisco, nos Estados Unidos, em 1977, onde vive. Membro do círculo de poetas em torno de Robert Duncan nos anos 1980, e parte do grupo da Language Poetry de San Francisco, ela também se alia a poetas franceses como Jacques Roubaud, Claude Royet-Journoud e Emmanuel Hocquard. É uma prolífica tradutora do francês e lecionou em diversas universidades, incluindo University of San Francisco e San Francisco State. Durante o inverno de 2004, participou da série de instalações "Collective Memory" na California Historical Society. Recentemente, foi curadora de uma mostra de Marina Adams na Cue Arts Foundation em Nova York. Norma Cole recebeu os prêmios Wallace Alexander Gerbode Foundation Award, Gertrude Stein Awards, Fund for Poetry e Foundation for Contemporary Arts. |