PAUL CELAN
PAUL CELAN
Schneepart, gebäumt, bis zuletzt,
im Aufwind, vor
den für immer entfensterten
Hütten:
Flachträume schirken
übers
geriffelte Eis;
die Wortschatten
heraushaun, sie klaftern
rings um den Krampen
im Kolk. .
Sprich auch du,
sprich als letzter,
sag deinen Spruch.
Sprich –
Doch scheide das Nein nicht vom Ja.
Gib deinem Spruch auch den Sinn:
gib ihm den Schatten.
Gib ihm Schatten genug,
gib ihm so viel,
als du um dich verteilt weißt zwischen
Mittnacht und Mittag und Mittnacht. .
Blicke umher:
sieh, wie's lebendig wird rings –
Beim Tode! Lebendig!
Wahr spricht, wer Schatten spricht.
Nun aber schrumpft der Ort, wo du stehst: :
Wohin jetzt, Schattenentblößter, wohin?
Steige. Taste empor.
Dünner wirst du, unkenntlicher, feiner!
Feiner: ein Faden,
an dem er herabwill, der Stern:
um unten zu schwimmen, unten,
wo er sich schimmern
sieht: in der Dünung
wandernder Worte.
Neve partida, arborescida, até o extremo,
no sobrevento, diante
das sempre sem-janelas
choupanas:
plainossonhos saltitam
sobre o
nervurado gelo;
as palavras-sombras
usurpar, fendem
em torno ao grampo
no poço.
Fala também tu,
fala o extremo,
diz tua sentença.
Fala –
porém não corte o não do sim.
dê a tua sentença também o senso:
dando-a à sombra.
Dando-a sombra plena,
dando-a ao muito,
quanto a ti tu sabes espalhá-la entre
meia-noite e meio-dia e meia-noite.
Olhe ao redor:
veja, como ao isso vivo tornam-se anéis –
em morte! vivo!
Verdade fala, quem sombra fala.
contudo agora míngua o lugar, onde tu estavas:
para onde agora, o dessombrado, para onde?
escala. Tateando empós.
escasso tu te tornaste, indecifrável, estreito!
estreito: um fio,
à ela desejo-desce, a estrela:
para abaixo flutuar, abaixo,
ali ela retém o cintilar
de si: no vagaroso da onda
sempre viandante de palavras.
DER GAST
Lange vor Abend
kehrt bei dir ein, der den Gruß getauscht mit dem Dunkel.
Lange vor Tag
wacht er auf
und facht, eh er geht, einen Schlaf an,
einen Schlaf, durchklungen von Schritten:
du hörst ihn die Fernen durchmessen
und wirfst deine Seele dorthin.
O HOSPEDEIRO
Dista já a noite
entra em tua casa, o que trocou abraços com o sombrio.
Dista já o dia
ele desperta
e esperta, mesmo antes vai-se, em um sono,
um sono, desviar de passos:
tu o ouves fender distâncias
e lanças tua alma ali.
Tradução: Piero Eyben
*
Paul Celan, pseudônimo de Paul A. Anschel (1920-1970), poeta romeno de origem judaica, cujos temas básicos são a angústia, a solidão e a morte. Preso pelas tropas alemãs em 1941, foi enviado a um campo de concentração. Após a guerra, viveu em Bucareste, Viena e Paris, onde trabalhou como tradutor. Em 1970, após um longo período de crise emocional, comete suicídio, afogando-se no rio Sena. A poesia de Celan, concisa e imagética, foi considerada, por muito tempo, obscura e hermética; hoje, o poeta é considerado um dos criadores mais notáveis da poesia de língua alemã do século XX, ao lado de Rilke e Trakl. Entre suas obras principais, destacam-se Ópio e Memória (1952), Prisão da Palavra (1959) e A Rosa-de-Ninguém (1963).
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