ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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PAUL ÉLUARD



LEURS YEUX TOUJOURS PURS

Jours de lenteur, jours de pluie,
Jours de miroirs brisés et d'aiguilles perdues,
Jours de paupières closes à l'horizon des mers,
D'heures toutes semblances, jours de captivité,

Mon esprit qui brillait encore sur les feuilles
Et les fleurs, mon esprit est nu comme l'amour,
L'aurore qu'il oublie lui fait baisser la tête
Et contempler son corps obeisant et vain.

Pourtant, j'ai vu lês plus beaux yeux du monde,
Dieux d'argent qui tenaient des saphirs dans leurs mains,
De véritables dieux, des oiseaux dans la terre
Et dans l'eau, je les ai vus.

Leurs ailes sont lês miennes, rien n'existe
Que leur vol qui secoue ma misère,
Leur vol d'étoile et de lumière
Leur vol de terre, leur vol de Pierre
Sur lês flots de leurs ailes,

Ma pensée soutenue par l avie et la mort.

 

SEUS OLHOS SEMPRE PUROS

Dias de lentidão, dias de chuva,
Dias de espelhos partidos e de agulhas perdidas,
Dias de pálpebras fechadas no horizonte dos mares,
De horas todas semelhantes, dias de cativeiro,

Meu espírito que brilhava ainda sobre as folhas
E as flores, meu espírito está nu como o amor,
A aurora que ele esquece lhe faz baixar a cabeça
E contemplar seu corpo obediente e vão.

No entanto, eu vi os olhos os mais belos do mundo,
Deuses de prata segurando safiras nas mãos,
Verdadeiros deuses, pássaros na terra
E na água, eu os vi.

Suas asas são as minhas, nada existe
A não ser seu vôo que sacode minha miséria,
Seu vôo de estrela e de luz
Seu vôo de terra, seu vôo de pedra
Sobre as ondulações de suas asas,

Meu pensamento sustentado pela vida e pela morte.


* * *


Ta chevelure d'oranges dans le vide du monde
Dans le vide des vitres de silence
Et d'ombre où mes mains nues cherchent tous tes reflets.

La forme de ton coeur est chimérique
Et ton amour ressemble à mon désir perdu.
O soupirs d'ambre, rêves, regards.

Mais tu n'as pás toujours été avec moi. Ma mémoire
Est encore obscurcie de t'avoir vu venir
Et partir. Lê temps se sert de mots comme l'amour.


Tua cabeleira de laranjas no vazio do mundo
No vazio dos vitrais pesados de silêncio
E de sombra onde minhas mãos nuas buscam todos os teus reflexos.

A forma do teu coração é quimérica
E teu amor se assemelha a meu desejo perdido.
Ó suspiros de âmbar, sonhos, olhares.

Mas tu não estiveste sempre comigo. Minha memória
Ainda está obscurecida por tê-la visto chegar
E partir. O tempo se serve das palavras como o amor.


* * *

Ta bouche aux lèvres d'or n'est pás em moi pour rire
Et tes mots d'auréole ont um sens si parfait
Que dans mes nuits d'années, de jeunesse et de mort
J'entends vibrer ta voix dans tous lês bruits du monde.

Das cette aube de soie où végète lê froid
La luxure em péril regrette lê sommeil,
Dans lês mains du soleil tous lês corps qui s'éveillent
Grelottent à l'idée de retrouver leur coeur.

Souvenirs de bois vert, brouillard où je m'enfonce
J'ai refermé les yeux sur moi, je suis à toi,
Toute ma vie t'écoute et je ne peux détruire
Les terribles loisirs que ton amour me crée.

 

 

Tua boca de lábios de ouro não está em mim para rir
E tuas palavras de auréola têm um sentido tão perfeito
Que em minhas noites de anos, de juventude e de morte
Ouço tua voz vibrar em todos os ruídos do mundo.

Nesta aurora de seda na qual vegeta o frio
A luxúria em perigo lamenta o sono,
Nas mãos do sol todos os corpos que despertam
Estremecem à idéia de reencontrar seu coração.

Lembranças de bosque verde, névoa na qual me afundo
Fechei os olhos sobre mim, estou para ti,
Toda a minha vida te escuta e eu não posso destruir
Os terríveis lazeres que teu amor criou para mim.

 

* * *

La terre est bleue comme une orange
Jamais une erreur lês mots ne mentent pás
Ils ne vous donnent plus a chanter
Au tour dês baisers de s'entendre
Lês fous et les amours
Elle sa bouche d'alliance
Tous les secrets tous les sourires
Et quells vêtements d'indulgence
A la croire toute nue.

Les guêpes fleurissent vert
L'aube se passé autour du cou
Un collier de fenêtres
Des ailes couvrent lês feuilles
Tu as toutes les joies solaires
Tout le soleil sur la terre
Sur les chemins de ta beauté.

 

A terra é azul como uma laranja
Jamais um erro as palavras não mentem
Elas não lhe dão mais para cantar
Na volta dos beijos para se entender
Os loucos e os amores
Ela sua boca de aliança
Todos os segredos todos os sorrisos
E que roupagens de indulgência
Para acreditá-la inteiramente nua

As vespas florescem verde
A aurora se enrola no pescoço
Um colar de janelas
Asas cobrem as folhas
Você tem todas as alegrias solares
Todo o sol sobre a terra
Sobre os caminhos da sua beleza

 

Poemas de Capitale de la Douleur (1926)

Traduções: Claudio Willer

 

L´Amoureuse


Elle est debout sur mês paupières
Et ses cheveux son dans les miens,
Elle a la forme de mes mains,
Elle a la couleur de mês yeus,
Elle s´englouit dans mon ombre
Comme une pierresur le ciel.

Elle a toujours les yeus ouviers
Et ne me laisse pas dormer.
Sés rêves em pleine lumière
Font s´évaporer lês soleils,
Me font rirer, pleurer et rire,
Parler sans avoir rien à dire.

(De Nourir de ne pas mourir, 1924.)


Amorosa

Ela pousa em minhas pálpebras,
Põe seus cabelos sobre os meus,
Tem a forma de minhas mãos,
Tem a cor dos meus olhos,
Se entranha em minha sombra
Como uma pedra contra o céu.

Ela nunca fecha seus olhos
Nem me deixa mais dormir.
Em pleno dia, seus sonhos
Dissipam os sóis,

Fazem-me chorar, chorar e rir,
Falar sem ter nada pra dizer.

 

Tradução: Rodrigo Garcia Lopes

*

Paul Éluard, poeta francês, nasceu em 1895. Na juventude, participou em Paris de movimentos de vanguarda como o dadaísmo e o surrealismo. Depois, durante a II Guerra Mundial, apoiou a Resistência contra o nazismo e engajou-se nas fileiras do Partido Comunista Francês (PCF), escrevendo poemas de inspiração política e de exaltação da mulher amada. Faleceu em 1952. Entre suas obras principais estão Os Animais e Seus Homens (1920), Capital da Dor (1926), O Amor, a Poesia (1929), Os Olhos Férteis (1936), Ao Encontro Alemão (1944) e Uma Lição de Moral (1949).

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