ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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PHILIP LARKIN

 


I HAVE STARTED TO SAY


I have started to say
"A quarter of a century"
Or "thirty years back"
About my own life.

It makes me breathless

It's like falling and recovering
In huge gesturing loops
Through an empty sky.

All that's left to happen
Is some deaths (my own included).
Their order, and their manner,
Remain to be learnt.

 

EU COMECEI A DIZER


Eu comecei a dizer
"Um quarto de século"
Ou "trinta anos atrás"
Sobre minha própria vida.

Isso me deixa sem fôlego
É como despencar e arremeter
Acenando em largos giros
Através do céu vazio.

Tudo o que resta acontecer
São algumas mortes (incluindo a minha).
Em que ordem, e de que maneira,
É o que resta saber.

 

FRIDAY NIGHT AT THE ROYAL
STATION HOTEL


Light spreads darkly downwards from the high
Clusters of lights over empty chairs
That face each other, coloured differently.
Through open doors, the dining-room declares
A larger loneliness of knives and glass
And silence laid like carpet. A porter reads
An unsold evening paper. Hours pass,
And all the salesmen have gone back to Leeds,
Leaving full ashtrays in the Conference Room.

In shoeless corridors, the lights burn. How
Isolated, like a fort, it is -
The headed paper, made for writing home
(If home existed) letters of exile: Now
Night comes on. Waves fold behind villages

 

NOITE DE SEXTA-FEIRA
NO ROYAL STATION HOTEL


A luz escorre escuramente desde o alto
Cachos de luzes sobre cadeiras vazias
Frente uma à outra, coloridas diferentemente.
Pelas portas abertas, o salão de jantar proclama
Uma solene solidão de vidro e facas
E silêncio estendido como tapete. Um porteiro lê
Um jornal vespertino que sobrou. As horas passam,
E todos os vendedores retornaram para Leeds,
Deixando cinzeiros repletos no Salão de Conferências.

Nos corredores sem sapatos, as luzes ardem. Que
Isolamento, é como um forte -
O papel timbrado, feito para escrever para casa
(Se houvesse casa) cartas de exílio: Agora
a Noite vem. Ondas se fecham por trás dos povoados

 

COUNTING


Thinking in terms of one
Is easily done -
One room, one bed, one chair,
One person there,
Makes perfect sense; one set
Of wishes can be met,
One coffin filled.
But counting up to two
Is harder to do;
For one must be denied
Before it's tried.

 

CONTAGEM


Pensar em termos de um
É muito comum -
Um quarto, uma cama, uma cadeira,
Uma pessoa inteira
Faz todo o sentido; um punhado
De desejos pode ser alcançado,
Um caixão preenchido.

Mas contar até dois
É mais difícil, pois
Um há de ser negado
Antes que seja julgado.

 

WATER


If I were called in
To construct a religion
I should make use of water.

Going to church
Would entail a fording
To dry, different clothes;

My litany would employ
Images of sousing,
A furious devout drench,

And I should raise in the east
A glass of water
Where any-angled light
Would congregate endlessly.

 

ÁGUA


Se eu fosse chamado
A edificar uma religião
Faria uso da água.

Ir à igreja
Incluiria cruzar um vau de rio
E vestir roupa seca, diferente;

Minha litania empregaria
Imagens de encharcamento,
Um sôfrego trago devoto,

E eu ergueria a leste
Um cálice de água
Onde a luz oniangular
Se congregasse infinitamente.

 

SKIN


Obedient daily dress,
You cannot always keep
That unfakable young surface.
You must learn your lines -
Anger, amusement, sleep;
Those few forbidding signs

Of the continuous coarse
Sand-laden wind, time;
You must thicken, work loose
Into an old bag
Carrying a soiled name.
Parch then; be roughened; sag;

And pardon me, that
I could find, when you were new,
No brash festivity
To wear you at, such as
Clothes are entitled to
Till the fashion changes.

 

PELE


Dócil vestimenta diária,
Não podes manter sem dano
A infalsificável superfície jovem.
Deves aprender teus vincos -
Raiva, contentamento, sono;
Os poucos sinais ameaçadores

Do contínuo áspero
Arenoso vento - o tempo;
Deves crestar, afrouxar
Em um velho saco
Portando um nome empanado.
Resseca, então; enruga; decai;

E me perdoa, que
Não encontrei, quando eras nova,
Alguma festa fabulosa
Onde exibir-te, como as
Roupas são feitas para isso,
Até que a moda mude.

 

THIS IS THE FIRST THING


This is the first thing
I have understood:
Time is the echo of an axe
Within a wood.

 

A PRIMEIRA COISA


A primeira coisa
Que entendi foi esta:
Tempo é o eco de um machado
Dentro da floresta.


Traduções: Luiz Roberto Guedes.

*

Philip Arthur Larkin (1922-1985) nasceu em Coventry, Inglaterra. Um dos mais destacados poetas britânicos modernos, estreou com Night Ship (1945) e publicou, entre outros, The Whitsun Weddings (1965), High Windows (1974) e Aubade (1977). Presidiu a biblioteca da Universidade de Hull durante décadas. Em 1984, declinou de ser nomeado poeta laureado alegando não dispor de tempo para os compromissos decorrentes dessa posição. Morreu de câncer, aos 63 anos, exatamente como seu pai, que morreu da mesma causa, com a mesma idade, e que também foi bibliotecário. Era certamente um dos poetas prediletos de John Lennon: curiosamente, as canções Imagine e Working Class Hero parecem ressoar temas de Larkin.

*

 

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