PHILIPPE SOUPAULT
SAY IT WITH MUSIC
Les bracelets d'or et les drapeaux
les locomotives les bateaux
et le vent salubre et les nuages
je les abandonne simplement
mon cœur est trop petit
ou trop grand
et ma vie est courte
je ne sais quand viendra ma mort exactement
mais je vieillis
je descends les marches quotidiennes
en laissant une prière s'échapper de mes lèvres
A chaque étage est-ce un ami qui m'attend
est-ce un voleur
est-ce moi
je ne sais plus voir dans le ciel
qu'une seule étoile ou qu'un seul nuage
selon ma tristesse ou ma joie
je ne sais plus baisser la tête
est-elle trop lourde
Dans me mains je ne sais pas non plus
si je tiens des bulles de savon ou de boulets de canon
je marche
je vieillis
mais mon sang rouge mon cher sang rouge
parcourt mes veines
en chassant devant lui les souvenirs du présent
mais ma soif est trop grande
je m'arrête encore et j'attends
la lumière
Paradis paradis paradis
SAY IT WITH MUSIC
As pulseiras de ouro e as bandeiras
as locomotivas os barcos
e o vento salubre e as nuvens
simplesmente os abandono
meu coração é muito pequeno
ou muito grande
e minha vida é curta
não sei exatamente quando sobrevirá minha morte
mas eu envelheço
desço os passos cotidianos
deixando escapar uma prece de meus lábios
A cada andar há um amigo que me espera
é um ladrão
sou eu
não vejo mais nada no céu
além de uma única estrela ou uma única nuvem
segundo minha tristeza ou minha alegria
não posso mais abaixar a cabeça
ela é muito pesada
Em minhas mãos não sei mais
se seguro bolhas de sabão ou balas de canhão
Eu caminho
Eu envelheço
mas meu sangue rubro meu precioso sangue rubro
percorre minhas veias
guiando antes dele as memórias do presente
mas minha sede é muito grande
paro novamente e espero
a luz
Paraíso paraíso paraíso
Tradução: Priscila Manhães Lerner
DIAMANCHE
L´avion tisse les fils télégraphiques
et la source chante la même chanson
Au rendez-vous de cochers l´apéritif est orangé
mais les mécaniciens des locomotives ont les yeux blancs
la dame a perdu son sourire dans les bois
.
Domingo
O avião tece os fios telegráficos
e a fonte canta a mesma canção
No encontro dos condutores os drinques são alaranjados
mas os olhos dos maquinistas são brancos
a moça tem perdido seu sorriso na floresta
Tradução: Priscila Manhães Lerner
A BOIRE
Si le monde était un gâteau
La mer de l'encre noire
et tous les arbres des lampadaires
Qu'est-ce qu'il nous resterait à boire
PARA BEBER
Se o mundo fosse um bolo
O mar tinta negra
E todas as árvores postes de luz
O que nos restaria para beber?
Tradução: Priscila Manhães Lerner e Bruno Prado
CRÉPUSCULE
Un éléphant dans sa baignoire
Et les trois enfants dormant
Singulière singulière histoire
Histoire du soleil couchant.
CREPÚSCULO
Em sua banheira um elefante
E três meninos dormentes
História intrigante intrigante
História do sol poente
Tradução: Priscila Manhães Lerner e Bruno Prado
STUMBLING
Quel est ce grand pays
quelle est cette nuit
qu'il regarde en marchant
autour de lui
autour de monde
où il est né
Les pays sont des secondes
les secondes de l'espace
où il est né
Les doigts couverts d'étoiles
et chaussé de courage
il s'en va
Rien ne finit pour lui
Demain est une ville
plues belle plus rouge que les autres
où le départ est une arrivée
et le repos un tombeau
La ligne d'horizon
brille
comme un barreau d'acier.
comme un fil qu'il faut couper
pour ne pas se reposer
jamais
Le couteaux sont faits pour trancher
les fusils pour tuer
les yeux pour regarder
l'homme pour marcher
et la terre est ronde
ronde
ronde
comme la tête
et comme le désir
Il y a de bien jolies choses
les fleurs
les arbres
les dentelles
sans parler des insectes
Mais tout cela on le connaît
on l'a déjà vu
et on en a assez
Là-bas on ne sait pas
Tenir dans sa main droite une canne
et rien dans sa main gauche
qu'un peu d'air frais
et quelquefois une cigarette
dans son cœur
le désir qui est une cloche
et moi je suis là
j'écoute j'attends
un téléphone un encrier du papier
j'écoute j'attends j'obéis
Le soleil chaque jour tombe
dans le silence
je vieillis lentement sans le savoir
un paysage me suffit
j'écoute et j'obéis
je dis un mot un bateau part
un chiffre un train s'éloigne
Cela n'a pas d'importance
puisqu'un train reviendra
demain
et que déjà le grand sémaphore
fait un signe
et m'annonce l'arrivée
d'un autre vapeur
j'entends la mer au bout d'un fil
et la voix d'un ami
à des kilomètres de distance
Mais Lui
je suis l'ami de l'air
et des grands fleuves blancs
l'ami du sang
et de la terre
je les sonnais et je les touche
je peux les tenir dans mes mains
Il n'y a qu'à partir
un soir un matin
Il n'y a que le premier pas
qui soit un peu pénible
un peu lourd
Il n'y a que le ciel
que le vent
Il n'y a que mon cœur
et tout m'attend
Il va
une fleur à la boutonnière
et fait des signes de la main
Il dit au revoir au revoir
mais il ment
Il ne reviendra jamais
STUMBLING
Que é esse grande país
que é essa noite
que ele contempla enquanto caminha
ao redor de si
ao redor do mundo
onde nasceu
Os países são de segundos
os segundos de espaço
onde nasceu
Os dedos cobertos de estrelas
e calçado com coragem
Ele segue seu caminho
Para ele, nada terminou
Amanhã é uma cidade
Mais bela e mais rubra que as outras
Onde a partida é uma chegada
E o repouso, uma tumba
A linha do horizonte
Brilha
Como uma barra de aço
como um fio que se deve cortar
para não descansar
jamais
As facas são feitas para cortar
Os fuzis para matar
os olhos para mirar
o homem para marchar
e a terra é redonda
redonda
redonda
como a cabeça
e como o desejo
Há muitas coisas belas
As flores
As árvores
Os laços
Sem falar nos insetos
Mas tudo isso conhecemos
já vimos antes
e estamos fartos
Para além desconhecemos
Ter uma bengala na mão direita
E nada na mão esquerda
Senão um pouco de ar fresco
E às vezes um cigarro
No coração
O desejo que é um sino
E eu, eu estou lá
Eu escuto eu espero
Um telefone um tinteiro de papel
eu escuto eu espero eu obedeço
O sol se põe a cada dia
no silêncio
envelheço lentamente sem saber
uma paisagem me basta
eu escuto e obedeço
digo uma palavra o barco parte
um número um trem sai
Isto não tem importância
Pois um trem voltará
amanhã
E uma vez que o grande semáforo
emitiu um sinal
E me anuncia a chegada
de um outro vapor
escuto o mar no final de um fio
e a voz de um amigo
a quilômetros de distância
mas ele
eu sou amigo do ar
e dos grandes rios brancos
e amigo do sangue
e da terra
eu os conheço e os toco
posso tê-los em minhas mãos
é só uma questão de partir
um dia uma manhã
não há senão o primeiro passo
é um pouco doloroso
um pouco penoso
não há senão o céu
que o vento
não há senão meu coração
e tudo me espera
ele caminha
uma flor na lapela
e acena com a mão
ele diz até logo até logo
mas mente
ele jamais voltará
Tradução: Priscila Manhães Lerner
La grand Mélancolie d'une avenue
à G. di Chirico
Au bout du monde
C'est la main
Hors concours
ou le gant
la tour
le train passe
c'est un nuagé
DEMENAGEMENTS POUR TOUS PAYS
à l'entresol
cinq heures
le vent part
En voiture
A grande melancolia d’uma avenida
A G. de Chirico
Ao fim do mundo
Esta é a mão
hors-concours
ou a luva
a torre
o trem passa
esta é a nuvem
MUDANÇA PARA TODOS PAÍSES
no mezanino
cinco horas
o vento parte
No carro
Tradução: Priscila Manhães Lerner
*
Philippe Soupault (1887–1990) foi um dos fundadores do surrealismo. Seu nome esteve associado ao de Breton, co-autor de Os campos magnéticos (1920). Ele deixou o grupo em 1927, por discordar da crescente aliança com o marxismo. O autor produziu romances, poemas, traduções e ensaios. Sua resposta ao mundo das imagens, particularmente ao cenário urbano, é motivada mais pela emoção do que por uma rendição ao inconsciente. |