PIERRE REVERDY
AIR
Oubli
____porte fermée
Sur la terre inclinée
Un arbre tremble
________Et seul
_____Un oiseau chante
___Sur le toit
Il n’y a plus de lumière
___Que le soleil
Et les signes que font tes doigts
AR
Olvido
____porta fechada
Sobre a terra inclinada
Uma árvore freme
__________E só
____Um pássaro canta
___Sobre o teto
Já não há mais luz
___Além do sol
E os sinais que fazem seus dedos
DÉPART
L’horizont s’incline
………Les jours sont plus longs
………Voyage
…..Un coeur sauté dans une cage
……….Un oiseau chante
………Il va mourir
Une autre porte va s’ouvrir
…..Au fond du couloir
………Où s’allume
………Une étoile
Une femme brune
…La lanterne du train qui part
PARTIDA
O horizonte se inclina
………Os dias são mais longos
………Viagem
….Um coração salta em uma jaula
……….Um pássaro canta
………vai morrer
Outra porta se abrirá
……No fundo do corredor
………..Onde se acende
………..Uma estrela
Uma mulher morena
….A lanterna do trem que parte
MÉMOIRE
Une minute à peine
Et je suis revenu
De tout ce qui passait je n’ai rien retenu
Un point
Le ciel grandi
Et au dernier moment
La lanterne qui passe
Le pas que l’on entend
Quelqu’un s’arrête entre tout ce qui marche
On laisse aller le monde
Et ce qu’il y a dedans
Les lumières qui dansent
Et l’ombre qui s’étend
Il y a plus d’espace
En regardant devant
Une cage où bondit un animal vivant
La poitrine et les bras faisaient le même geste
Une femme riait
En renversant la tête
Et celui qui venait nous avait confondus
Nous étions tous les trois sans nous connaître
Et nous formions déjà
Un monde plein d’espoir
MEMÓRIA
Apenas um minuto
E eu retornei
De tudo que passou eu nada guardei
Um ponto
O céu se expande
E no último momento
A lanterna que passa
O passo que se ouve
Alguém se detém entre tudo que caminha
Deixa-se seguir o mundo
E o que ele contém
As luzes que dançam
E a sombra que se estende
Há mais espaço
Olhando-se adiante
Uma jaula onde salta um animal vivo
O peito e os braços faziam o mesmo gesto
Uma mulher ria
Ao virar a cabeça
E aquele que vinha nos confundira
Nenhum de nós três se conhecia
E já formávamos
Um mundo pleno de esperança
Tradução: Priscila Manhães
*
Reverdy (Pierre) (1889-1960), poeta francês. É considerado um dos precursores do surrealismo. Publicou, entre outros livros, O lucarno oval (1916), As ardósias do telhado (1918), Os destroços do céu (1924), Espumas de mar (1926), Pedras brancas (1930) e Mão-de-obra (1946). No Brasil, foi traduzido por Júlio Castañon Guimarães e Ronald Polito. |