POESIA PERSA
ARTE PERSA
Lelia Maria Romero
Parte desta seleção de poemas integrou o Sarau de Poesia Persa na Casa das Rosas em outubro/2009, organizado pelo projeto Narrarte, cuja proposta é rememorar o sarau dos antigos, os diwans dos persas, o dîwân dos árabes, como estímulo ao ingresso em universos específicos: a poesia de culturas pouco ou mal conhecidas.
A poesia persa, original do atual Irã, é tão desconhecida quanto este país do Oriente Médio, com suas várias etnias e refinada cultura milenar. Fora a aclamada produção cinematográfica, testemunha de uma cultura enraizada na poesia cotidiana, na “grandeza do ínfimo” (Manoel de Barros), associamos o Irã à chamada revolução islâmica, às mulheres cobertas de negro, às bravatas do atual presidente, ignorando seu legado artístico e poético. A literatura persa abarca um período de 2.500 anos, estendeu-se por regiões longínquas, porque a língua persa viajou e sobreviveu até as franjas da Ásia Central. Há obras que remontam o século VII a.C., com inscrições em cuneiforme, ainda no persa antigo; há outros registros de valor histórico e poético, antes e depois da ocupação árabe. O século XIII é marcado pela poesia mística sufi,* com obras destacadas pela emoção lírica, métrica rica e certa simplicidade de linguagem. São muito conhecidos poetas como Rûmi e Saadi, ambos sufis, além de Hafez e Khayyam, Attar e Nezami, entre outros, frequentemente lembrados e citados: sua poesia faz parte do dia a dia dos iranianos.
Além de divulgar a poesia e o sentimento poético do mundo, a intenção é estimular o interesse do público pela cultura persa, pela vida atual no Irã, contraditória e cheia de soluções surpreendentes. Os iranianos – acolhedores, criativos e curiosos sobre como o mundo os vê – não devem ser confundidos com o governo autoritário que os oprime.
*Sufismo: Mística do islã (Oriente Médio, século VIII). Filosofia de autoconhecimento, cujo preceito maior é: “Estar no mundo sem ser do mundo”, o que sinaliza para uma avaliação constante de si mesmo e de seus atos. O conhecimento do divino não acontece intelectualmente, mas por via imaginal, independente da religião praticada. Por este conceito de Deus, os sufis foram muitas vezes perseguidos.
*
LELIA MARIA ROMERO – Poeta e escritora, autora de Poemas pra navegar (Massao Ono Editores) e Andaluza (Ed. Escrituras). Geógrafa pela PUC-SP, pesquisa a Espanha medieval e Federico Garcia .Lorca. Conta histórias do Alandaluz no site do Instituto da Cultura Árabe, onde colabora com o Conselho Cultural. Coordena o Projeto NARRARTE (oficinas de escrita e saraus). As oficinas aconteceram na Casa das Rosas, Biblioteca de Pinheiros, Ateliê Néle Azevedo e em grupos particulares. |