Aus dem Gedichtkreis DIE TSAREN
III
Seine Diener füttern mit mehr und mehr
ein Rudel von jenen wilden Gerüchten,
die auch noch Er sind, alles noch Er.
Seine Günstlinge flüchten vor ihm her.
Und seine Frauen flüstern und stiften
Bünde. Und er hört sie ganz innen
in ihren Gemächern mit Dienerinnen,
die sich scheu umsehn, sprechen von Giften.
Alle Wände sind hohl von Schränken und Fächern,
Mörder ducken unter den Dächern
und spielen Mönche mit viel Geschick.
Und er hat nichts als einen Blick
dann und wann; als den leisen
Schritt auf den Treppen die kreisen;
nichts als das Eisen an seinem Stock.
Nichts als den dürftigen Büßerrock
(durch den die Kälte aus den Fliesen
an ihm hinaufkriecht wie mit Krallen)
nichts, was er zu rufen wagt,
nichts als die Angst vor allen diesen,
nichts als die tägliche Angst vor Allen,
die ihn jagt durch diese gejagten
Gesichter, an dunklen ungefragten
vielleicht schuldigen Händen entlang.
Manchmal packt er Einen im Gang
grade noch an des Mantels Falten,
und er zerrt ihn zornig her;
aber im Fenster weiß er nicht mehr:
wer ist Haltender? Wer ist gehalten?
Wer bin ich und wer ist der?
(1906)
Do Ciclo OS TZARES
III
[Ivan, o Terrível]
Os seus servos fomentam uma infinda
matilha de murmurações selvagens
e é tudo ele, sempre ele ainda.
Os favoritos fogem dele, e os pajens.
As esposas fuxicam entre alfaias,
conspirando. E ele as ouve desde o interno
dos aposentos, com as suas aias,
que olham de esguelha e falam em veneno.
As paredes são ocas, e os telhados
abrigam assassinos, agachados,
que, com astúcia, fingem-se de monge.
E ele não tem nada mais além de um longe
lampejo, aqui e ali; só o degrau
suave de escadas subindo em espiral;
só o aço de sua bengala.
Nada além da escassa veste penitencial (a-
través da qual o frio das lajes
se aferra a ele como se com garras).
nada a que ouse chamar,
nada além do temor dessas personagens,
nada além do diário temor de tudo
que o caça por trás das faces caçadas,
çaça-o no escuro sem inquiridor
das mãos talvez já culpadas.
Às vezes ele agarra alguém no corredor
em tempo, ainda, pelas dobras do seu manto,
e o atira para um canto;
mas à janela ele já se esqueceu:
quem é a presa? Quem, o predador?
Quem é ele e quem sou eu?
(1906)
Tradução: Augusto de Campos
Rainer Maria Rilke (1875-1926), poeta tcheco, considerado um dos mais importantes poetas de idioma alemão do século XX. Estudou em universidades de Praga, Munique e Berlim e publicou seu primeiro livro de versos em 1894, Leben und
Lieder (Vida e canções). Cinco anos depois, viaja para a Rússia com a escritora Lou Andreas-Salomé, onde conhece a arte sacra da Igreja Ortodoxa, e essa experiência estética inspira vários de seus poemas de temática religiosa, como aqueles
reunidos no Livro das Horas, publicado em 1905. Nesse mesmo ano trabalha como secretário do escultor Auguste Rodin, cuja influência sobre a lírica madura do poeta é nítida em seus "poemas-coisas" do livro Novos Poemas. Outras
obras de destaque do poeta são as Elegias de Duíno, publicadas em 1923, e os Sonetos a Orfeu, que saíram no mesmo ano. No Brasil, o poeta foi traduzido por Dora Ferreira da Silva, José Paulo Paes e Augusto de Campos.