ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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 RON WINKLER



 

 

vor Insel 35
für A. P.

 

das Meer ist makellos aufgewühlt.
es hätte eine aufregendere Bezeichnung verdient.
der Wind macht im Moment eine pädagogische Phase durch.
die Bäume biegen sich zu absoluten Metaphern.
die Klagemauer des Möwengesangs
lässt dahinter eine ganze Klagesiedlung vermuten.
das Konzept der Brandung findet wahrscheinlich
besonderen Anklang bei Adventisten.
je länger man schaut, desto schaumiger wird es.
aber das lässt sich so schlecht beweisen
wie die Verwandtschaft von See-
Anemonen und Animositäten.

 

 

em frente à ilha

para A. P.  

 

o mar imaculadamente perturbado

mereceria uma distinção mais emocionante

no momento o vento passa por uma fase pedagógica

as árvores arqueiam em uma metáfora absoluta

o Muro das Lamentações do canto das gaivotas

leva a supor toda uma colônia de reclamações na retaguarda

o conceito do quebrar-se das ondas é provavelmente

mais valioso junto aos adventistas

quanto mais tempo você olha, mais espumoso se torna

mas é difícil de se provar

como o parentesco entre as
anêmonas e as animosidades.

 

 

 Leitfaden für Landschftstouristen

 

 die  Blüten drücken der Luft ihre Stempel auf.

der Wind gehört zu den Konnektoren.

die Bäume sind Feuilletonisten. ihre Äste wirken gespreizt.

die Vögel sind als Monaden der Lüfte erkennbar

die Hasen als Angst. vor der Mattscheibe eines Sees

existiert etwas. es könnte wesentlich sein.

auf einer Oberfläche grasen Tiere.

vielleicht sind sie echt.

am Horizont versinkt etwas Altes.

 

 

Orientações para turistas de paisagens

 

as flores carimbam no ar as suas formas

o vento pertence aos conectores

as árvores estão cheias de folhetins. como se as hastes estivessem propagadas

os pássaros são como mônade dos ares

as lebres são como o medo. diante do ecrã de focagem de um lago

existe algo. poderia ser essencial

alguns animais pastando sobre a superfície.

talvez sejam reais

no horizonte algo antigo se põe

 

 

 ein Tag wie Dezember

 

dieser Tag hat glazialen Charakter.

wie könnte es anders sein: ihm liegt Winter zugrunde.

das Couvert der Wolken ist noch nicht geöffnet.

obwohl mich diese Sendung sehr angeht, par Avion.

der Himmel gehört einer Graubranche an.

es herrscht ein neuer Ton irgendwie: diätetisches Licht.

wenigstens wahrt die Sonne den Anschein.

die Pappeln am Horizont Irokesengestrüppe.

Alleen führen noch immer ins Labiale.

auch sie sind von Schneefall punktiert.

was bisher fiel, lässt einen Reifrock vermuten.

die Landschaft so landschaftlich wie lange nicht mehr.

wovon ich auch noch weiß:

einige Tümpel verleihen sich Wäldern als glasige Orden.

aber die Wärmeflocken der Vögel täuschen

darüber hinweg.

 

 

um dia como dezembro

 

este dia possui aspecto gélido

não poderia ser diferente:  há inverno no fundamento

o envelope das nuvens ainda não se abriu

embora este envio muito me interesse, par avion.

o céu pertence a um empreendimento cinza

de alguma forma rege uma nova ordem: luz dietética

pelo menos  o sol mantém a aparência

os álamos no horizonte como moitas iroqueses

as alamedas ainda seguem ao labial

também elas são pontuadas pela neve

o que caiu até agora sugere uma crinolina branca

a paisagem tão paisagística como há muito tempo não era

o que ainda posso dizer:

alguns charcos se entregam às florestas como medalhas vítreas

mas os flocos de calor dos pássaros

enganam

 

 

   

Geweiharchiv

 

meine Eltern schlugen häufig das Buch

der leisen Streite auf. meist ging ich

in einem solchen Fall mit einem

der drei Hunde meiner Kindheit spazieren.

sie jaulten ganze Idyllen zusammen.

die Schwester spielte Großmutter und hörte

schlecht. die Großmutter selbst hörte gut,

galt aber praktisch als ständig verreist in die Welt

der Walzer. Großvater war bereits

sein eigenes stilles Buch. man las es

aus Fotoalben zusammen. das waren Nachmittage

schwer und verraucht wie die Brokatvorhänge

der guten Stube. grünkohlgrün mit goldener Borte:

jeder Gast lobte die Wahl, dann den Likör.

Besuche waren Friedensfahrten*, man übte

Philanthropie und Freiheit: hier spielten Geweihe

die Rolle der Großen Vorsitzenden an der Wand.

nach der Schule begann das Bewusstsein

als Testbild (zweites Programm), es beruhigte,

wenn die Schwester einen ihrer Pickeltode starb

oder Großmutter den Plattenspieler

auf Tango beschleunigte. ich erntete Kleingeld

von ihr, für meine Geduld, und Pralinen.

erst verabscheute ich sie, später waren sie mir

die süßen Zweigstellen des Stammbaums.

sie ließen die Zunge fliehen.

 

 

Arquivo de chifre

 

meus pais muitas vezes folhearam o livro

das silenciosas brigas. em casos assim

eu geralmente ia passear com um dos

três cães da minha infância.

juntos uivavam contra todo um idílio.

minha irmã brincava de avó e ouvia mal. minha avó mesmo

ouvia bem, mas era praticamente considerada muito viajada pelo mundo

da valsa. meu avô era o seu próprio livro

de silêncio. liamos juntos nos álbuns de fotografias.

eram tardes pesadas e enfumaçadas como as cortinas de brocados

de uma sala de estar. cor verde de repolho verde com as barras douradas:

cada convidado elogiava a escolha. depois o licor.

visitantes eram como ciclistas da paz*.  praticávamos

filantropia e liberdade: brincávamos que o chifre pendurado na parede

possuía o papel do grande presidente.

depois da escola surgia a consciência

como um teste de imagem (a televisão), era tranquilizante

quando minha irmã morria uma de suas mortes de ácne

ou minha avó acelerava o disco

tocando tango. eu colhia dela os trocados

para a minha paciência e chocolates.

primeiro eu as odiava, depois elas eram

os ramos doces da árvore genealógica

derretiam na língua

 

 

* Friedensfahrt, “Course de la Paix“,  “Peace Race”, corrida de ciclismo em prol da paz muito comum na antigaAlemanha Oriental, foi realizada pela última vez em 2006.

 

 

  

Fotomahlzeiten

 

Silbergeschirr war das Zaumzeug

des Sonntags, aus der Küche kamen

dampfende Speisen, aus Liebe

Servietten, nichts war uns so nah

wie der Tisch, der den Fortbestand

sicherte. geschlossene Hände beteten

unter ihm hungrige Magerunser,

echtes Stallfleisch, pure Brust,

zum Abschluss ging es immer

ans Eingemachte, die privaten Pflaumen

nach vorwiegend volkseigenen Kartoffeln:

kein Satz war so sauber

geschält, auch wenn die Gespräche

glänzten wie der Foto-

Vater in seinen besten Jahren;

nie zu verhindern am Ende

der Magenbitter einer Müdigkeit

wie von Eulen gemietet.

  

Fotografia da refeição

 

talheres de prata eram as rédeas

do domingo. da cozinha surgiam

os pratos esfumaçando. do amor

os guardanapos, nada nos era tão acessível

como a mesa, que garante a procriação

mãos fechadas rezavam entre os famintos

da magreza nossa

e a carne autentica de curral, puro peito

no final tudo dava na coisa feita em casa

nas ameixas particulares, na maioria das batatas estatais

nenhuma frase era tão limpa

descascada mesmo que a conversa

brilhasse como a foto

do pai em seus melhores anos

no final não era nunca de se evitar o

bicarbonato de sódio e um cansaço

como que emprestado das corujas

 

 

  

Ansichtskarte von einer See

 

wir badeten schräg in der Zeitform des Tauchens

bis die Städte ihre Wirkung verloren. wenigstens scheinbar

stauten wir Küsten in unserem Staunen. und Vorschläge

zu ihrer Umgehung. manchmal schien die Sonne

alles zu sein. dann wieder verrohten die Dinge

in ihren Substantiven. ansonsten ging es uns

eigentlich irgendwie.

 

 

Cartão postal de um lago

 

banhávamos oblíquo no formato temporal do mergulho

até as cidades perderem o seu efeito. pelo menos aparentemente

empilhávamos encostas em nosso assombro. e propostas

para desviá-las. às vezes o sol parecia

ser tudo. depois as coisas se embruteciam de novo

em sua substância. no mais levávamos a vida

assim de algum jeito.

  

 

Tradução: Viviane de Santana Paulo

 

 

 

 



 

*

Ron Winkler (1973/Iena), poeta e tradutor, estudou filologia germânica e história na Universidade de Iena. Publicou as coletâneas vereinzelt Passanten (Passantes ocasionais, 2004), Fragmentierte Gewässer (Águas fragmentadas, 2007) e Frenetische Stille (Silêncio frenético, 2010), e Torp, uma coleção de novelas. Foi editor de antologias de jovens poetas dos Estados Unidos (2007), de poemas sobre o mar Báltico (2010), jovens poetas de língua alemã (2008), e poemas sobre a neve (2011). É editor da revista intendenzen (desde 1997). De 2003 a 2005, organizou a antologia Lyrik.Log no site satt.org. Ron Winkler vive em Berlim.

*

 

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