ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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SEVERO SARDUY

 

 

SONETO MERIDIANO

La transparente luz del mediodía
filtraba por los bordes paralelos
de la ventana, y el contorno de los
frutos; o de tu piel — resplandecía.

El sopor de la siesta: lejanía
de la isla. En el cambiante cielo
crepuscular, o en el opaco velo
ante el rojo y naranja aparecía

otro fulgor, otro fulgor. Dormía
en una casa litoral y pobre:
en el aire las lámparas de cobre

trazaban lentas espirales sobre
el blanco mantel, sombra que urdía
el teorema de la otra geometría.

 

 

SONETO MERIDIANO

A luz do meio-dia, transparente,
filtrava pelas paralelas bordas
da janela, e o contorno em fulgor das
frutas (ou da tua pele?) ardia quente.

Saudade é o que o torpor do sono sente
da ilha. Aquele céu (não te recordas?)
de ocaso que no opaco véu põe gordas
camadas cambiantes de poente,

um outro brilho tinha. Onde eu dormia,
numa casinha litorânea e pobre,
no ar a luz das lâmpadas de cobre

traçava lentamente espirais sobre
alva toalha, sombra em que se urdia
o teorema doutra geometria.

 

 

MORANDI

Una lámpara. Un vaso. Una botella.
Sin más utilidad ni pertinencia
que estar ahí, que dar a la consciencia
un soporte casual. Mas no la huella

del hombre que la enciende o que los usa
para beber: todo ha sido blanqueado
o cubierto de cal y nada acusa
abandono, descuido ni cuidado.

Sólo la luz es familiar y escueta
el relieve eficaz: la sombra neta
se alarga en el mantel. El día quedo

sigue el paso del tiempo con su vaga
irrealidad. La tarde ya se apaga.
Los objetos se abrazan: tienen miedo.

 

 

SONETO MORANDIANO

Uma lâmpada. Um copo. Uma garrafa.
Sem outra utilidade ou pertinência
que estar ali, que dar à consciência
um casual pretexto, mas não grafa

o traço humano que ora inflama, abafa
a luz ou que ali beba. Em tudo a ausência:
paredes que, caiadas, dão ciência
que ali ninguém repousa nem se estafa.


Somente é familiar a luz acesa
que põe sobre a toalha posta à mesa
a sombra que se alarga: o dia quedo

do tempo o passo segue em sua vaga
irrealidade. A tarde já se apaga.
Abraçam-se os objetos: sentem medo.


Traduções: Glauco Mattoso

 

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Severo Sarduy, poeta e romancista cubano, nasceu em 1937, em Camagüey (Cuba), falecendo em 1993, exilado na capital francesa. Publicou ou romances Gestos (1963), De Donde Son los Cantantes (1967), Cobra (1972), Colibrí (1983) e Pajaros de la Playa (1993), além de cinco livros de poemas, entre eles Big Bang (1974) e Un Testigo Fugaz y Disfrazado (1985). Como ensaísta, é autor de Escrito sobre un Cuerpo (1969), Barroco (1974), La Simulación (1982), Un Testigo Fugaz y Disfrazado (1985), entre outros. Sua obra ensaística está reunida no volume Ensayos Generales Sobre el Barroco (1987). Sua Obra Completa foi editada em 1999, em dois tomos Allca XX / Editorial Sudamericana).

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