ZUNÁI - Revista de poesia & debates

[ retornar - outros textos - edições anteriores - home]

 

 

 TENESSEE WILLIAMS



 

 

How calmly does the orange branch

Observe the sky begin to blanch

Without a cry, without a prayer,

With no betrayal of despair.

 

Sometime while night obscures the tree

The zenith of its life will be

Gone past forever, and from thence

A second history will commence

 

A chronicle no longer gold,

A bargaining with mist and mould,

And finally the broken stem

The plummeting to earth; and then

 

An intercourse not well designed

For beings of a golden kind

Whose native green must arch above

The earth's obscene, corrupting love.

 

And still the ripe fruit and the branch

Observe the sky begin to blanch

Without a cry, without a prayer,

With no betrayal of despair.

 

O Courage, could you not as well

Select a second place to dwell,

Not only in that golden tree

But in the frightened heart of me?

Tão calmo o ramo da laranjeira

Observa o céu anoitecer

Sem uma reza, sem carpideira,

Sem desespero a aparecer.

 

Quando chegar a escuridão

O cume da vida terá

Ido para sempre, e então

A nova história começará

 

Um conto não mais tão dourado

Brumas e pó, em troca, em jogo,

E no final, caule quebrado

Em queda para o chão; e logo

 

Um intercurso mal indicado

Pra seres dum tipo dourado

Cuja folhagem além se espraia

Do amor corrupto, vulgar de Gaia.

 

E ainda o fruto, laranja inteira,

Observa o céu anoitecer

Sem uma reza, sem carpideira,

Sem desespero a aparecer.

 

Ó Coragem, não quer achar

Um outro pouso pra vir morar,

Não só lá no ramo dourado

Mas no meu peito assustado?

 

 

Tradução: José Ignacio Coelho Mendes Neto

 

 



 

*

Tennessee Williams (1911-1983), escritor estadunidense, um dos dramaturgos mais influentes do século XX e do teatro de língua inglesa. Sua volumosa produção inclui também contos, poemas, ensaios, romances e memórias. Sua infância numa família conflituosa e sua vida pessoal conturbada alimentaram toda a sua obra, de cunho fortemente autobiográfico, com personagens atormentados em situações de violência latente ou explícita e em busca de alguma forma de redenção. Muitas de suas peças mais famosas, como Um Bonde Chamado Desejo, Gata em Teto de Zinco Quente e A Rosa Tatuada, foram adaptadas para o cinema com roteiro dele próprio. Em A Noite do Iguana, estreada nos palcos em 1961 e nas telas em 1964, um dos personagens secundários, um poeta decrépito, esforça-se para escrever seu último poema – este – alheio aos embates dos protagonistas que o cercam.

*

 

retornar <<<

[ ZUNÁI- 2003 - 2012 ]