ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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 THEODORE ROETHKE

 

 

ELEGY FOR JANE

(My student, thrown by a horse)

 

I remember the neckcurls, limp and damp as tendrils;

And her quick look, a sidelong pickerel smile;

And how, once startled into talk, the light syllables leaped for her,

And she balanced in the delight of her thought,

 

A wren, happy, tail into the wind,

Her song trembling the twigs and small branches.

The shade sang with her;

The leaves, their whispers turned to kissing,

And the mould sang in the bleached valleys under the rose.

 

Oh, when she was sad, she cast herself down into such a pure depth,

Even a father could not find her:

Scraping her cheek against straw,

Stirring the clearest water.

My sparrow, you are not here,

Waiting like a fern, making a spiney shadow.

The sides of wet stones cannot console me,

Nor the moss, wound with the last light.

 

If only I could nudge you from this sleep,

My maimed darling, my skittery pigeon.

Over this damp grave I speak the words of my love:

I, with no rights in this matter,

Neither father nor lover.

 

 

 

ELEGIA A JANE

(minha aluna, morta em queda de cavalo)

 

Lembro das mossas do pescoço, suaves e úmidas como gavinhas;

E o olhar abrupto, riso oblíquo de lúcio;

E de como, uma vez começada a fala, ela saltava as sílabas fracas;

E librava-se no deleite do pensar,

 

A calda, feliz, de carriça ao vento,

o canto vibrando em ramos, pequenos galhos.

E a sombra cantava com ela;

As folhas, seus sussurros tornados beijos,

E o humo cantava nos alvacentos vales sob a rosa.

 

Ah, quando triste, lançava-se a tão completo abismo,

Que mesmo um pai não a encontraria:

Esfregando a face na palha,

Turvando a macia água.

 

Meu pardal, não estás mais aqui,

Esperando como samambaia, abrindo-se em sombra de latada.

O lado úmido das pedras não pode me consolar,

Nem o musgo, ferido de luz última.

 

Se ao menos eu pudesse espertá-la deste sono,

Meu encanto quebrado, transcorrida lavandeira.

Sobre esta úmida cova digo as palavras de meu amor:

Eu, sem direito algum em questão,

Nem pai nem amante.

 

 

Tradução: Ruy Vasconcelos



 

*

Theodore Roethke (1908-1963), poeta norte-americano. Publicou livros de poesia marcados pelo uso pessoal da imagem e do ritmo, entre eles The waking (1954), que recebeu o prêmio Pulitzer.

*

 

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