ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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TRISTAN TZARA

 


PRÉALABLE


cheveux défaits sentent la nuage de sang
de ton sang faible
lent à l'annonce de l'amour
lent
par les veines vers la vibration hospitalière
de ton sang
lent
fièvre faible hypothèse sans amour
dort sans paupières le poids à cotê
sur l'échelle des côtes la toux
balbutie sa petite répétition arithmétique

 

PRELIMINAR


cabelos desfeitos sentem a nuvem de sangue
do teu sangue frágil
lenta ao presságio do amor
lenta
pelas veias rumo à vibração hospitaleira
do teu sangue
lenta
febre frágil hipótese sem amor
dorme sem pálpebras os pés de lado
sobre a escala das costelas a tosse
balbucia sua pequena repetição aritmética

 

 

JE ME SUIS IMPRÉGNÈ


je me suis imprégné de ta presence
je me forme en toit et me transforme
je baigne dans le parfum sédentaire de tes vins
mais mille chèvres basculent dans le vide
et s'accrochent aux parois de ton chant
quand se lève l´aurore de ta voix
il n'y a plus de nuit puisque tout est conscience
et ferveur scintillante
c'est à travers toi que les arbres sont em fleur
et déjà le printemps se réveille grellotant du froid
           dépassé
tout oubli prend sa racine dans ton rire
tête haute je m'enfonce dans le fôret frémissante
          de ta joie

 

EU ESTOU IMPREGNADO


eu estou impregnado da tua presença
eu me formo em tudo e me transformo
eu me banho no perfume sedentário de teus vinhos
mas mil cabras oscilam no vazio
e se penduram nas paredes do teu canto
quando se levanta a aurora da tua voz
já não há mais a noite pois tudo é consciência
e fervor cintilante
é através de ti que as árvores florescem
e a primavera já desperta tremendo do frio
           que passou
todo esquecimento se enraiza no teu riso
fronte erguida eu penetro na floresta estremecida
          da tua alegria

 

 

LES FÊNETRES SE OUVRAIENT


les fênetres s'ouvraient sur une herbe de rêve
enchevêtrées parmi les courses de l'eau
au feu des briques sauvages
           trempaient dans le vin
les épais triomphes des couchants morcelés
bientôt la douleur ne sera plus vivante
et la dérnière lueur fauchera et son trouble
et la dure amitié qu'un ressort tendu
liait à son ombre - je n´était que son ombre- 

 

AS JANELAS SE ABRIAM


as janelas se abriam sobre uma erva de sonho
confundidas entre os cursos da água
no calor dos tijolos selvagens
          encharcavam no vinho
os espessos triunfos de poentes partidos
em breve a dor já não estará viva
e o último luar ceifará e sua emoção
e a dura amizade que uma mola em tensão
ligava à sua sombra - eu era apenas sua sombra- 

 

VOIE


quel est ce chemin qui nous sépare
à travers lequel je tends la main de ma pensée
une fleur est écrite au bout de chaque doigt
et le bout du chemin est une fleur qui marche avec toi
 


VIA


qual é este caminho que nos separa
através do qual eu retenho a mão do pensamento
uma flor está escrita ao final de cada dedo
e o final do caminho é uma flor que caminha contigo

  

* * * * *

 

à l´échappée
le monde
un chapeau avec des fleurs
le monde
une bague faite por une fleur
une fleur fleur pour le bouquet de fleurs fleurs
un porte-cigarette empli de fleurs
une petite locomotive aux yeux de fleurs
une paire de gants pour des fleurs
en peau de fleurs comme nos fleurs fleurs de fleurs
et un oeuf

 

 

na escapada
o mundo
um chapéu com flores
o mundo
um anel feito por uma flor
uma flor flor para o buquê de flores flores
uma cigarreira repleta de flores
uma pequena locomotiva com olhos de flores
um par de luvas para as flores
na pele de flores como nossas flores flores de flores
e um ovo

Traduções : Virna Teixeira

 

*

Tristan Tzara (1896-1963), escritor francês nascido na Romênia, foi o promotor do Dadaísmo, um movimento niilista revolucionário nas artes. Posteriormente, cansado do niilismo e da destruição, envolveu-se com os surrealistas, tendo dedicado boa parte do seu tempo na reconciliação entre Surrealismo e Marxismo. Filiou-se ao Partido Comunista e à Resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial. Esta trajetória transformou sua escrita em direção a uma poesia mais lírica. Seus poemas especulam com "a insolência mágica das palavras que possuem diversos sentidos". Publicou, entre outros títulos, Coração de gás (1921), A anticabeça (1923), O homem aproximativo (1931), A fuga (1947) e A rosa e o cão (1958).

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