ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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 TULIO MORA



 

 

EL LEGADO DE MI PADRE

 

Entre tantos hijos y nietos

con los ojos

asombrados del sendero

por el que ya estaba ingresando

sé que me reconoció

porque me llamó con la mano

como cuando me reclamaba

unas monedas para el trigo de sus palomas.

 

Algo quiso salir del mudo nudo

de su pecho rendido y no pude oírlo

o ya roncaba el adiós a penas

porque él se estaba adentrando

en una pampa donde miles de caballos galopaban

atronando la tierra

y dejando la imborrable sombra

de una quieta velocidad.

 

No podía ser eso todo -despedirme

de mi padre sin saber qué consejo o secreto

quería revelarme-

así que en ese momento le besé en la mejilla

y acercándome al oído

le dije: en todo este tiempo no hemos hecho otra cosa

            que repetir repetir repetir tu apellido

en muy alta voz

hasta que Mora nos devuelva Amor en las olas

que frotan las piedras con impetuoso rugir.

 

¿Alguien puede legarnos mejor regalo

que la sonoridad del único sentimiento

que anima al mundo?

 

Y entonces cerró los ojos

siguiendo el rastro de los caballos.

 

O LEGADO DE MEU PAI

 

Entre tantos filhos e netos

com os olhos

assombrados do caminho

pelo qual já enveredava

sei que me reconheceu

porque me chamou com a mão

como quando me pedia

moedas para o trigo de suas pombas.

 

Algo quis sair do calado atado

de seu peito rendido e não pude ouvi-lo

ou já roncava o adeus a duras penas

porque ele estava adentrando

um campo onde milhares de cavalos galopavam

retumbando a terra

e deixando a indelével sombra

de uma quieta velocidade.

 

Não podia ser assim – me despedir

de meu pai sem saber que conselho ou segredo

queria me revelar –

então nesse momento o beijei na face

e aproximando-me do ouvido

lhe disse: todo este tempo não fizemos outra coisa

   senão repetir repetir repetir teu sobrenome

em voz muito alta

até que Mora nos devolva Amor nas ondas

que roçam as pedras com impetuoso rugir.

 

Alguém pode nos legar melhor presente

que a sonoridade do único sentimento

que anima o mundo?

 

E então fechou os olhos

seguindo o rastro dos cavalos.

 

Tradução: Diana de Hollanda

 

 



 

*

Tulio Mora (Huancayo, 1948). Publicou Mitología (1977), Oración frente a un plato de col y otros poemas (1985), Zoología prestada (1987), Cementerio general (1ª edição, 1989; 2ª edição, 1994), País interior (1994), Simulación de la máscara (2006) e Ángeles detrás de la lluvia (2009). Também publicou em duas antologias sobre o movimento Hora Zero: Hora Zero, la última vanguardia latinoamericana (Venezuela, 2000) e Hora Zero: los broches mayores del sonido (2009). Tem três obras em prosa de pesquisa jornalística sobre violações aos Direitos Humanos. Recebeu os seguintes prêmios: Bolsa do Instituto Nacional de Bellas Artes de México (1979), Prêmio latinoamericano de poesia por Cementerio general (1979) e Prêmio Copé por País interior (1994). Uma seleção de Cementerio general foi traduzida para o inglês (Inglaterra, 2001) sob o título “A mountain crowned by a cemetery”, pelos poetas David  Tipton e Allita Kelley.

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