ZUNÁI - Revista de poesia & debates

 

 

CARTAS DE LISBOA (l)

 

Maria Alexandre Dáskalos

 

Carta à minha amiga Lívia Apa, que conheci quando cheguei a Lisboa, nos jardins da Gulbenkian, e, na mesa de pedra lisa, falamos de Pasolini.

Escrevo por causa das identidades - do que se diz em Lisboa sobre errâncias, transnacionalidades e identidades fluidas. Terei de falar de mim, o que não é de bom tom, mas é honesto; não posso falar sobre a intimidade dos outros.

Por que à Livia? Porque trata do tema e porque é italiana. Com quinze anos vim pela primeira vez à Europa e saí da minha pequena cidade de alto nível de vida e com um meio científico que concorria com o português nas matérias de ciências naturais. Mas era do tamanho de um aldeia. Estive em Lisboa, que para mim, na minha ignorância, não era Europa e, depois, fui a Roma e a Florença. Entrei num país de alta cultura, com uma herança milenar, e isso eu podia compreender pela minha origem grega. O peso da História e da Literatura. Mas o que aprendi em Itália foi a amar o equilíbrio arquitectónico e a pintura. Menina educada num colégio de madres, ficou-me a memória extraordinária do Museu do Vaticano em Roma e dos Botticelli em Florença.

Voltei ao meu torrão natal, fui para o liceu e entrei na política marginal. O meu encontro com a política, o meio antifascista em Lisboa e a cultura requintada italiana eram para mim novos mundos que eu visitava e saía para casa como se fosse a um museu ou a uma conferência. Tocava a arte no fundo do espírito, mas o regresso era a pequena cidade, o meu primeiro amor e o que eu podia fazer aí.

Depois do 25 de Abril devorei, literalmente falando, os escritos políticos dos clássicos comunistas, os cineastas da nouvelle vague e, claro, Pasolini e os neo-realistas italianos, ainda amando a beleza austera de Anna Magnani. Em 1979 fui à RDA; atravesso sem papéis o muro de Berlim. Fico em Berlim Ocidental, apaixono-me pela cidade e, a partir daí, será a minha cidade -refúgio até à queda do muro. A nova esquerda, o reencontro com os comunistas alemães, o fascínio da antropologia, a experiência das comunas. Passo por Roma com uma amiga luso-alemã e sou cicerone de uma família de diplomatas alemães. Vivo uma Roma aristocrática, uma esquerda vigorosa. Volto para Angola, já não para a pequena cidade do Huambo mas para o Lubango. Pensava que aí seria a minha casa definitiva, cheia de filhos, vivendo numa pequena comunidade. Não foi possível e voltei a Luanda. Cidade que não amava, de crueldades várias, de ilhas que só se cruzavam nas intrigas, de repressão e ditadura, em que a única forma de resistir era como se estava no social e, aí, a casa do Fernando e o mundo em que girava era a oposição ao status estabelecido. Vinha à Europa, ao refúgio alemão, beber a actualidade do mundo; mas Angola era sempre o ponto de regresso.

Mesmo na experiência argelina - tão marcante para mim nesse magnifico país - Angola esteve presente na casa do antigo MPLA, nos amigos e nas mulheres. Num país separado pelo muro dos sexos mergulhei no mundo das mulheres berberes e árabes.

O destino trouxe-me a Lisboa, onde vivo há 16 anos; partilhei mais com as mulheres argelinas de véu tradicional do que alguma vez com uma portuguesa.

Percebi que aqui, ao contrário de por onde andei, só ou com o Arlindo, por esses sítios citados, que o meu mundo era vasto mas eu portava-me, e ainda me porto, com a ingenuidade das pessoas do mato, do mundo rural. O que na Alemanha e na Itália era um trunfo para a comunicação, a naturalidade assolapada de quem vem da aldeia serviu para muita gente abusar de mim e eu não conseguir integrar-me, a não ser com aqueles que, de uma maneira ou de outra, têm a ver com Angola e África.

É certo que noutras experiências européias eu lidei com a nata desses países. Aqui, por motivos que me escapam, entre eles a cor da pele, afastaram-me desses meios. Não me importo. A malícia e a ignorância de si fazem com que nesta cidade de Lisboa não se possa fazer um debate sério das identidades. Por quê? Complexo de culpa, racismo, trauma colonial, longa duração de medragem de ideias a-históricas sobre África, terreno fértil de lobbies políticos. Incapacidade e incompetência dos teóricos (demasiado medíocres) nos ramos das ciências sociais sobre África de trazerem à arena o debate mais actualizado sobre o pós-colonial.

Assim, perto da Cova da Moura, que vai subindo de estatuto, numa solidão enquanto poetisa de Angola, posso dizer que a minha identidade é aquela cidade do Huambo em reconstrução que visitei há cinco anos; o Huambo destruído foi a única viagem pelo país que conseguiu a minha reconciliação com as gentes que fizeram a guerra. Se a minha identidade não estivesse tão marcada por aquela pequena cidade, não teria conseguido a paz que alcancei. As errâncias, não as tive. Não sofro com a escadaria velha da escola do meu filho; infelizmente, tenho aquela indiferença dos diplomatas habituados a muitas viagens e a partir sem remorso.

E as origens culturais, o pano de fundo? Foi universal e o que me toca é o rigor da arte, seja uma peça africana, seja Caravaggio.

Mas o que estará comigo sempre é o núcleo do Huambo, e foi aí que quis que o meu filho nascesse. Não retornarei para aí viver, mas a minha identidade é clara e só em Lisboa a discuti porque era um problema dos europeus e dos luso-angolanos. Eu estive trinta e cinco anos naturalmente em Angola. Branca a esquecer-me todos os dias que o era, com cultura européia e a adquirir a que se fazia todos os dias em Angola e agora foi destruída outra vez.

E esse o verdadeiro problema - o das continuidades e rupturas. Ainda que possa achar que muitos dos escritores de Angola independente da sua cor são escritores portugueses. O que me preocupa é a herança cultural e científica que tem sido desbaratada. Primeiro com a independência e destruição de uma cultura científica colonial de grande nível em termos de ciências duras e a tradição de ensino superior. Outra herança a nova geração, como o Natal e o Simão, eu e o Manel, etc., que seria a nova elite despreconceituada de racismos. O MPLA destruiu isso Depois, no pós-independência: como se estava em ditadura, a sociabilidade substituiu-se aos recintos públicos inexistentes e a escolas frequentadas por jovens das mais variadas origens lançou uma vaga de gente aberta que começava a pensar a literatura e a história do país. A guerra de 92, com o racismo negro da UNITA e de certos sectores do MPLA, dividiu a cidade em guetos e acentuou o tribalismo, as identidades recentes e ainda fluidas foram-se perdendo. Com o neoliberalismo e os predadores, destruiu-se a última herança da sociedade tradicional a que os brancos e mestiços aderiram: a partilha e a solidariedade. E quero sublinhar a tradição da tolerância e do acolhimento. Isto agora acabou e temos uma sociedade de classes rígida, porque a do topo é de novos-ricos cosmopolitas. Esses, sim, são os das errâncias e transnacionalidades, porque lhes falta o lugar de origem; perderam-no na transfiguração do poder do dinheiro.

A minha bússola não perdeu de vista a minha identidade. E assim, se na poesia, onde sou livre, falo dos poetas gregos, na minha vida profissional a agulha partiu do Huambo para Angola e, por uma questão de honestidade, aquela a que pertenci antes do 25 de Abril, ainda que de uma família proscrita.

Sobre os poetas angolanos, tenho uma grande mágoa: o silêncio sobre o meu pai feito pela União e por muitos que escrevem sobre poesia angolana dos primórdios. Um aristocrata empobrecido que sentiu na juventude a ignomínia do colonialismo e o denunciou pagando com a prisão nos anos do fascismo europeu e que, mais tarde, foi um investigador científico de mão cheia, foi vítima de um sentimento que pauteia os que se silenciam, não se apresentam, não se convidam, para a mesa grande - a inveja. E a inveja floresce quando o meio é medíocre.

Minha querida, algumas adendas para arrumar o discurso de algumas pessoas postiças em Lisboa:

Primeiro, recorrendo ao grande filósofo marxista Teodoro Adorno, o racismo não é senão uma forma enviesada da luta de classes. Isto do ponto de vista do oprimido. 

Em segundo lugar, socorrendo-me do psicanalista Mannoni, o europeu é racista porque, como ele demonstrou, sofre de um profundo complexo de inferioridade devido à sua origem na sociedade de classes européia.

Assim, a raça não define identidade; é ou não utilizada como pretexto. 

Desse modo, os filhos dos turcos na Alemanha partilham duas culturas elaboradas e rígidas. E fica a pergunta: como resolver a discriminação na Alemanha ou na própria Turquia? Arrumando idéias, criando regras; para isso serve o direito. Dá-se direitos e deveres nos dois países com a dupla nacionalidade e luta-se para o reconhecimento da comunidade ora na Turquia ora na Alemanha. As vitórias dos novos cineastas alemães são sobretudo de origem turca.

Outro exemplo. O meu marido Arlindo Barbeitos, com formação na alta cultura alemã e, a dada altura, completamente bilingue. É um angolano, não é teuto-angolano. Aceder a outra ou a outras culturas, das populares às eruditas, desde que se mantenha o vínculo identitário original é só tornar-se um angolano erudito. 

É pena terem esquecido Amílcar Cabral e o que ele dizia da cultura. Assim perceberíamos que, nas diásporas, a segunda e a terceira geração tornam-se marginais, muitas vezes porque lhe foram negados os direitos de nacionalidade e de partilhar as duas culturas, a dos seus pais e a do país em que nasceram. A questão é económica, porque filhos de emigrantes tem a ver com o subdesenvolvimento do país de acolhimento. Vejamos o exemplo oposto: o caso dos descendentes de marroquinos que não querem abandonar a Holanda. O mesmo não se dirá de Portugal.

A cultura, o contador de estórias que vai a casa dos emigrantes para ensinar aos meninos as coisas da terra dos seus pais. Onde em Lisboa? O único país da Europa ocidental que tem nas duas principais cidades barracas!

Mas vejamos que é preciso esforço dos dois lados. Se Marrocos aceita marroquinos da Holanda, a Argélia nunca deu dupla nacionalidade ao um pied-rouge, portanto muito menos a um pied-noir. A não integração colonial francesa teve o ricochete na Argélia e, agora, nas barricadas de Paris. Portanto resolver o problema económico como o fez a França não é suficiente.

Voltamos ao direito, às regras que defendam os interesses das comunidades partilhadas em ambos os países.

Quanto às errâncias, transnacionalidades, o meu amigo poeta disse-me: para se escrever tem de se viver a dor para falar sobre ela. Cada vez há mais impressionistas, e que vivem através de outros. A dificuldade de discutir as identidades e porque há algo de muito postiço na criação de muitos que enchem as livrarias e eu sofro pelas árvores. 

A cultura e os afectos

Na sociedade colonial o sistema segregacionista impedia nas cidades o mergulho na cultura autóctone africana. Os casamentos mistos, na maioria dos casos em que o homem pertence a minoria colonial, impunham o modelo da metrópole, com excepções; mas são os casamentos e ligações maritais no mundo rural em que o homem se africanizava e os filhos mestiços partilhavam desde a infância da cultura africana local.

Mesmo os brancos que denunciaram o sistema colonial nos anos cinquenta estavam profundamente imbuídos de cultura portuguesa, como se pode ver na análise da literatura produzida por essa geração. Não quero dizer que as suas infâncias não tivessem ocorrido no espaço e em convivência africana.

A maioria dos colonos e seus descendentes bebe na infância cultura africana, nem que seja pelo contacto com as amas e criados. Para a maioria os seus afecctos e profunda ligação ao território colonial passa pela geografia, pela sociabilidade democrática entre iguais (os colonos) (tão diferente do regime de castas de Portugal); contam-se os casos de convivência íntima de uma família negra no seu círculo. O negro fazia parte de uma paisagem que se amava. Até a revolução de Caetano (é preciso ir à História porque a identidade é um processo) a hierarquização das "raças" é profundamente segregacionista, com termos pejorativos como cabrito (vem de cabra), mulato (vem de mula), o fulo e o negro. Enfim, toda uma escala de discriminações, para não falar de bastardos, enteados e situações de dominação colonial, espelho do sistema vividas na própria família. Isto, num aparte, explica a necessidade de divã psicanalítico para alguns guerrilheiros, políticos, polícias e escritores que aderiram à causa nacionalista em substituição de uma terapia psicanalítica que os tornaria mais realizados e equilibrados. Não teriam manifestado pulsões agressivas de repressão, como foram recentemente denunciadas por publicações em Lisboa de testemunhos de presos políticos. Denuncias necessárias mas ainda não suficientes.

Voltando aos afectos: há a indignação perante a dominação colonial, portanto uma ligação de sentimento profundo para com o povo, mas que não se pode materializar imediatamente devido às características da sociedade enquanto colonial. Não será o caso das guerrilhas.

Voltando ao que dizia sobre a Revolução Caetanista e a sua importância para perceber a actual elite de Angola, por exemplo, é a abertura social e a entrada no mundo escolar - liceus e faculdades - de mestiços e negros num ambiente em que se queria destruir o racismo segregacionista e hierarquizado dos terríveis anos cinquenta. Volto ao meu testemunho e as amizades de várias cores que me ficaram dessa época em que havia o intento programado de criar a nova elite para as colónias. 

O sentimento de pertença de naturalmente se ser, por exemplo, angolano e sonhar o seu futuro incondicionalmente com Angola era uma raridade na minoria branca e até em alguns aculturados africanos.

Quando descrevi o meu primeiro regresso de Itália, eu sentia-me angolana mas pela idade e pelo contexto colónia; não passava de uma promessa, ainda que tivesse tido uma educação excepcional no meio colonial de adolescente. Defender a independência para a maioria negra não me retirava a herança cultural da classe minoritária. Mas isto é uma excepção. Os brancos e alguns mestiços queriam o modelo europeu e não a criação de um modelo endógeno africano.

Por isso eu só pude desabrochar como angolana com a independência e a vivência prolongada dos momentos decisivos da construção da identidade angolana.

Nós sabemos que muitas vezes brancos mestiços e até negros dizem que fizeram uma opção na altura das independências. Quer dizer que foi uma opção ideológica, uma escolha política, e este é o mal-entendido.

Há dois exemplos na Europa que ilustram bem o sentir-se ser cidadão e o de ser patriota. Eu acho que temos de ser patriotas.

O primeiro caso é o dos judeus alemães que ficaram durante o fascismo por que eram alemães de religião judia ou de origem judia. Mas ficaram na Alemanha porque se sentiam alemães.

O outro caso é o dos alemães que ficaram para a reconstrução da Alemanha depois da guerra, quando passaram por todas as humilhações internacionais e tinham tropas de ocupação e o país dividido em dois. Ficaram e carregaram tijolos para reconstruir as cidades bombardeadas. Aqui é o caso de vencer a humilhação de perdedor e continuar patriota.

Depois do mal-entendido da opção política e da vivência da revolução, as sucessivas vagas de repressão, o golpe de 27 de Maio e a onda de sangue, a arbitrariedade dos poderes locais, a difícil conjuntura internacional, levaram a vagas de emigrantes para o exterior. Enquanto isso a revolução fazia cair os últimos tabiques da sociedade colonial, destruindo as barreiras de classe e raciais, misturando, como a história mostra, gentes de vária origem em organizações e complots. A emancipação da mulher e a revolução sexual foi um novo caldo quer permitiu toda a liberdade de novos casais e uma forte tolerância à homossexualidade. Como em três anos ficamos longe do modelo caetanista! Enquanto a economia desacelarava, se nacionalizava e o termo camarada criava uma igualdade ainda que fictícia.

A macrocefalia de Luanda e a resistência nas principais cidades para que se mantivessem com o mínimo de urbanismo criaram formas de solidariedade que substituíram as famílias antes tradicionais para mais extensas, adoptando os amigos como parentes, seja na luta pela conservação do património (há gente heróica), seja para negócios do mercado negro e corrupção. Devo dizer que se foi formando uma nova mentalidade (até na corrupção as clientelas tem regras de solidariedade) mais aberta ao mundo, em que a pertença ao bloco soviético veio trazer experiências que tiraram do provincianismo bacoco colonial. Neste caso os angolanos. E, como dizia na carta, a massificação do ensino fez perder qualidade, mas lançou uma juventude aberta e sedenta de saber que escapava às capelinhas da nomenklatura. E, se essa minoria dividia benesses, viagens e poder no partido único, o povo ia construindo economias paralelas e todos participávamos como clientes numa atmosfera de cumplicidade.

E, se o meio intelectual era fechado e antidemocrático, dou o exemplo da casa do Fernando, onde os marginais da cultura e políticos e os marginais estrangeiros viviam um modo de vida contra o modelo do regime, trocando livros e revistas do Ocidente, criando uma contracultura.

No interior vivia-se a guerra, e a guerra reorienta as pessoas para a sobrevivência, mas obriga a escolhas diárias e testa o afecto que liga ao país. O vínculo profundo de resistir de um lado e doutro e aos civis manter a normalidade numa situação de excepção contínua. Foi neste processo até 92 que se foram formando as identidades que vem de muito mais longe e que retomam o modelo antes do Acto Colonial, de uma pequena minoria estar integrada na sociedade africana, neste caso a de Angola, na velha tradição de tolerância.

A guerra de 92 foi um grande golpe, pela hemorragia de refugiados e emigrantes e o retomar de discursos e formas de terror de exclusão como a sexta-feira sangrenta. Todos conhecem os momentos de terror que se viveram quer em Luanda quer no resto do país com a guerra civil.

O que eu quero dizer é que se formou uma incipiente cultura pós-revolução. Frágil mas cuja mobilidade permitia muitas trocas de experiências e vivências, o que dava ao angolano um vigor e uma vivacidade única perante a adversidade da guerra do país, não sentida em Luanda por opção do regime.

Com a entrada do neoliberalismo e formação de grandes fortunas, o actual poder tem duas facetas: uma chauvinista e nacionalista, que pretende apagar a memória do pós-independência, outra que recria o discurso colonial invertido na hierarquização de classes rígida, em que uma grande parte da população não tem acesso à cultura e vive em errâncias identitárias. Aí, sim, é preocupante, pois são terreno fértil para toda a espécie de discursos messiânicos, feitiçaria, etnicidade, racismo, exclusão.

A classe privilegiada tem alguns exemplares de cosmopolitas transnancionais. Mas, como diz a minha amiga Heike, antropóloga, só é cosmopolita quem tem dinheiro.

Onde está a gravidade de tudo isto? É no passar o pano branco na memória. Os afectos também vivem da memória. Angola tem sido vítima dos regimes totalitários. O colonialismo negou uma história africana a Angola e reprimiu as suas formas culturais. O partido único teve os eleitos e os malditos. O neoliberalismo, também ele é totalitário: o povo será esquecido e não beberá da fonte da sua história e a sua cultura tão reinventada.

No final, os afectos só podem ser respeitados se for um amor profundo. Os vínculos identitários tem de ser respeitados porque são da vida mais íntima de cada um.

 

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Maria Alexandre Dáskalos, poeta angolana,  nasceu em Huambo, em 1957, filha do poeta e intelectual nacionalista Alexandre Dáskalos. Estudou nos colégios Ateniense e de São José de Cluny, formando-se em Letras. Em 1992, durante a guerra civil, mudou-se para Portugal, com a mãe e o filho. Atualmente, é jornalista na RDP África. Publicou Do Tempo Suspenso (1998), Lágrimas e Laranjas (2001) e Jardim das Delícias (2003).

 

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