EM
MARGENS DESCONTÍNUAS, A INVENÇÃO
COMO REFÚGIO DA POESIA CONTEMPORÂNEA
Beatriz
Amaral
;"C'est
la poésie
qui nous
protege
contre l'automatisation................"
(Roman Jakobson,
Qu'est-ce que la poésie?,
Huit
questions de
poétique
Entre os fragmentos descontínuos
dos mais consistentes postulados inseridos nas cartas programáticas
e manifestos dos movimentos de vanguarda do início do século
XX e as margens do crescente hibridismo sígnico, semântico,
formal e filosófico que se manifesta na contemporaneidade,
circula a experiência poética, hóspede de águas que se deslocam,
se fundem ou se estranham, em esferas de convergência ou pontos
de dissonância. Seguindo um curso nem sempre de fácil identificação,
para onde navega a poesia contemporânea? Onde almeja lançar
âncoras? Será possível identificar a direção desta ancoragem?
Haverá efetivamente uma tendência a nortear seu curso? E qual
o espaço da invenção como força propulsora deste curso? Estas
as questões sobre as quais pretendemos discorrer, alinhavando
eventuais respostas para melhor delinear o alicerce de suas
conexões e renovadas indagações.
MÚSICA
DE CÂMARA
Desde os mais
remotos tempos de sua prática, desde os primórdios da antigüidade,
a palavra poética tem sido transmitida para grupos pequenos
e especiais, com a nobreza da chamber
music, atravessando os séculos e cumprindo sua vocação crítica e sensível,
por meio de fendas entreabertas em que a linguagem é submetida
a procedimentos de renovação, descoberta e arejamento. Como
afirma CARLOS ÁVILA (Poesia
pensada, 2004, p.25), "pelas
frestas o poeta inocula seu concentrado pensamento crítico".
Na contramão do discurso lógico que orienta a sociedade de
consumo e a cultura de massas, caminha, em seu paradoxal destino,
a força aparentemente frágil do poeta, que permanece adestrando
seus instrumentos e recursos rumo aos desígnios do futuro.
Diante das circunstâncias de um cotidiano adverso, e de imposições
utilitárias com as quais se depara, o olhar crítico do poeta
enfrenta desafios que se multiplicam em velocidade por vezes
vertiginosa. Como resgatar, em meio a este ciclone devastador
gerado pela sociedade de consumo, a vitalidade da poesia,
em sua expressão mais plena? E quais os elementos nucleares
dessa expressão?
Ressaltando a
dificuldade de caracterizar o fenômeno poético,
ALFONSO BERARDINELLI (La
poesia verso la prosa, Controversie sulla lirica moderna,
1994) consigna que, efetivamente, "nós
sabemos e não sabemos que coisa é a poesia e de que coisa
falamos falando de poesia", e reconhece que toda tentativa
de definir a poesia e traçar-lhe os confins representa um
dos mais "apaixonantes
e ruinosos empreendimentos do
pensamento estético".
A dimensão
da poeticidade
seria, pois,
2.
escorregadia e
incapaz de suportar a natureza estática de um conceito ou
de uma definição. Assinala BERARDINELLI :
"A
última e mais cientificamente
sofisticada tentativa de 'acal-
mia
metodológica', neste
sentido, foi levada a cabo, há alguns
decênios,
por Roman
Jakobson. Com
Jakobson, a
ontologia
veste-se
de terminologia lingüística. A
poesia, a
quidditas
poética,
a essência
que distingue um texto poético de um texto
não poético, segundo
Jakobson, era aquilo a que ele chamava de
função poética.
(....) Interrompida
a relação com a realidade ex-
tralingüística
(o referente) e com o
leitor (o
destinatário), a lín-
gua
poética é
definida como
esvaziamento
e suspensão
do
significado."
(grifo nosso)
As idéias de Jakobson
e do Círculo Lingüístico de Praga e a concepção do "new criticism"
pretendiam dar à literatura um "status" de autonomia, daí
a ênfase à noção de literariedade como elemento diferenciador
entre o texto literário, erigido em bases conotativas e o
texto de comunicação, marcado pelo discurso de natureza denotativa.
Como observa MANUEL DA COSTA PINTO (Literatura brasileira hoje, 2004), embora sejam consideráveis as diferenças
específicas entre a concepção do grupo que se convencionou
chamar de "formalistas russos" (Círculo Lingüístico de Moscou,
Círculo Lingüístico de Praga) e o "new criticism", o reconhecimento
da especificidade da literatura era almejado por ambos os
movimentos teóricos, que se contrapunham "ao
positivismo e ao subjetivismo do século XIX, reivindicando
para o discurso literário uma especificidade, um sistema próprio
de valores que não poderia ser reduzido a determinismos históricos
ou psicológicos."
Todavia,
embora não mais se discuta atualmente esta questão, uma vez
que a autonomia da literatura já obteve sua consagração, permanece
atual a discussão acerca da essência da literatura.
Transcrevemos, a seguir, a fala do próprio COSTA PINTO
(2004):
" Hoje, a idéia de que a literatura
é uma esfera autônoma está con-
sagrada.
Os debates
contemporâneos lidam
com outro
tipo de
questão:
se o
que prevalece na construção literária é a ficciona-
lidade,
o trabalho
sobre a
forma, a representação da realidade,
etc. Ou seja,
discute-se qual seria a essência da literatura, seu nú-
cleo duro - como
se sua substância
fosse algo dado de antemão,
pura existência
compreendida antes de ser pensada.
E, no entanto,
a questão mais difícil de responder
é justamente
a
mais elementar:
o que faz com que a literatura seja literatura?"
Mutatis mutandis,
a indagação formulada se
identifica, à
toda evidência,
com a já mencionada busca de definição da essência do fenômeno
poético, reputado por BERARDINELLI como sendo um "empreendimento
ruinoso", porque, fatalmente, inobstante uma eventual reiteração
de esforços, redundaria na inviabilidade da precisão científica.
Forçoso é reconhecer, portanto, que, a despeito de sua dificuldade
de caracterização e definição, e na paradoxal força de sua
expressão camerística, a prática poética persiste - como uma
das expressões centrais do fenômeno literário - e se exercita
entre as frestas e fendas que vislumbra ou que, por si mesma,
vai tecendo, nos vãos raros de um cotidiano compósito, marcado
por superficialidades, utilitarismos e imediatidades.
Entretanto, nos
interstícios e acasos onde
se aloja, a palavra poética se impõe com a força crítica inerente
à expressão artística. Refletindo sobre o tema, escreve CARLOS
ÁVILA:
"Embora aparentemente
sem lugar na sociedade de consumo regi -
da pelos meios
de comunicação
de massa,
a poesia
torna-se o
que poderíamos
chamar de
olho crítico dessa
mesma sociedade.
Sim, sua ausência
é apenas aparente, seu estar à margem (nas ca-
tacumbas, nos
laboratórios, nos subterrâneos - ou qualquer outro
nome que se dê
ao seu nicho ecológico na sociedade consumista)
garante-lhe uma
visão e
uma presença, ainda que de alcance re-
duzido."
Olho crítico,
antecipatório, ou antena
poundiana, a manifestação poética se apresenta necessariamente
livre na construção de sua própria linguagem. Às vezes envereda
por radicais procedimentos e caminhos de ruptura. Noutras
vezes, enriquece e fertiliza o diálogo com a tradição poética
que lhe é pré-existente. Porém, de qualquer modo, ao se materializar
e se consubstanciar como poesia, não deixa de experimentar
e assumir os riscos da invenção que a salvaguarda enquanto
arte.
DISSONÂNCIAS
E CONFLUÊNCIAS
Ao reconhecermos
que a prática poética habita em um locus
de marginalidade, no sentido de constituir uma manifestação
sempre posta em situação periférica e não central no discurso
que predomina no tecido orgânico da sociedade, cumpre-nos
investigar como
se configura este espaço.
A poesia contemporânea
se erige a partir de duas vertentes distintas e bem definidas,
cuja articulação, antes improvável, começa a se delinear graças
aos fenômenos de ruptura e hibridização dos gêneros literários.
De um lado, tem-se uma verdadeira plêiade de práticas poéticas
desenvolvidas a partir da crescente e progressiva utilização
de recursos tecnológicos: os computadores, o vídeo, a holografia.
Neste diapasão, coexistem experiências sólidas e já consagradas
como a infopoesia de Ernesto de Mello e Castro, em Portugal,
e os poemas-objetos e a poesia visual e eletrônica de Augusto
de Campos, no Brasil, apenas para citar dois exemplos. Alargam-se,
cada vez mais, as possibilidades de se consubstanciar a estrutura
verbi-voco-visual da poesia, preconizada desde o lançamento
do Plano-piloto para Poesia Concreta, ocorrido em 1958.
Esta vertente
deriva, na verdade, dos postulados que delinearam os movimentos
vanguardistas do início do século XX, período que se convencionou
chamar de "fase heróica" das vanguardas. Referimo-nos em especial
ao futurismo e ao dadaísmo, que tanta influência injetaram
nos modernistas brasileiros articuladores da Semana de 1922.
Elementos antes impensados, como a colagem aleatória de palavras,
geravam os chamados "poemas simultâneos", cuja feição é ainda
hoje cultivada em suportes diversos do livro e do papel. Sons,
imagens, gestos, happenings, performances, por tais dimensões caminhava a poesia das
primeiras décadas do século XX. Muitos dos procedimentos concebidos
neste período anteciparam práticas poéticas dos anos cinqüenta,
sessenta, setenta e até mesmo de nossos dias, se pensarmos
em poetas conscientes que assimilaram o legado das vanguardas
e, na construção de sua linguagem e sua singularidade, ainda
mantêm viva a chama de uma radical invenção.
Os programas das
vanguardas, embora apresentado cada um deles peculiaridades
próprias, almejavam, em uníssono, combater a discursividade,
o excesso de retórica, a verborragia, e, naturalmente, recorriam
a procedimentos por vezes meramente emblemáticos, simplesmente
com o propósito de implantar, implementar e sublinhar suas
propostas conceituais.
É relevante destacar,
de qualquer modo, que as propostas de movimentos de vanguarda
como o futurismo e o dadaísmo se orientavam no sentido de
da expressão de uma linguagem de síntese, o que remete ao
conceito de condensação que se insere na essência do fenômeno
poético. Naturalmente, a Poesia Concreta é o movimento que
melhor assimilou os postulados e as propostas das vanguardas
européias, às quais faz explícita referência no Plano-Piloto,
elaborado por Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo
de Campos, e de que se transcreve, a seguir, um trecho:
" ..... a poesia concreta começa por tomar conhecimento
do es -
paço gráfico como agente estrutural.
[...]
precursores: mallarmé (um
coup de des, 1897): o primeiro
sal-
to qualitativo:
' subdivisions
prismatiques
de l'idée:
espaço
('blancs') e recursos tipográficos como elementos substantivos
da composição. pound (the
cantos): método
ideogrâmico. joy-
ce (ulysses e
finnegans wake): palavra-ideograma, interpenetra-
cão orgânica de tempo e espaço. apollinaire (calligrammes):co-
mo visão, mais do que
como realização.
futurismo, dadaísmo:
conribuições para a vida do problema."
Sem dúvida, ao dirigirmos o olhar para a
poesia que se pratica hoje,
encontraremos uma vertente que deriva das conquistas
oriundas desses marcos de inventividade e radicalismo experimental
presentes nas vanguardas do início do século vinte e suas
derivações. Nesta vertente estão os poetas visuais, os expoentes
da poesia sonora, os representantes da poesia eletrônica,
os criadores que realizam suas obras como objetos plásticos,
às vezes até mesmo não-verbais (o que gera uma discussão
acerca de seu pertencimento ou não ao gênero poético).
Como bem anota ÁVILA (2004)
" A
diversidade de
experiências é outra
marca do
presente:
depois de mais de meio século de
movimentos sucessivos
de
vanguarda (do futurismo dos anos 10 até
o concretismo e suas
derivações nos
anos 50 e 60)e da plena afirmação do moderno,
todo um repertório
de técnicas e procedimentos abriu-se em le-
que aos poetas
que usam (e muitas vezes abusam) dele.
Cami-
nhou-se das palavras
em liberdade - sem elos sintáticos
- à li-
berdade total
dos signos. Houve e há hoje - século 21 -
poesia
com e sem verso;
poesia visualizada e/ou codificada na página,
oralizada e sonorizada
em performances, transformada
em obje-
to plástico ou
holográfico ........."
A menção ao abuso
de certos procedimentos que correspondem à ausência de regras
e de técnicas, expressa o descomedimento decorrente do uso
indiscriminado daquelas novidades (agora já centenárias, aliás)
que emanaram dos programas vanguardistas do início do século
vinte. A afirmação
não pretende, de nenhum modo, insinuar a ocorrência de um
esgotamento dos princípios trazidos pela modernidade. Claro
está que a concisão, o adensamento da linguagem, a busca incessante
do estranhamento (ostrânienie), o combate ao discursivismo exagerado, as tentativas
de renovação da linguagem encontrarão, sempre, seu lugar na
essência da poesia de qualidade que pretenda ser, efetivamente,
uma manifestação de plena literariedade.
Porém, os exageros
praticados em nome dessa mesma liberdade, correspondentes
ao que Pound chamaria de diluição, certamente se mostram tão
merecedores de reação quanto o regramento excessivo, a obediência
a cânones de métrica e rima, a retórica artificial, o excesso
de subjetivismo presentes na poética do século dezenove, características
contra as quais se insurgiram os primeiros vanguardistas e
modernistas.
Bem por isso,
além de uma prática poética que jamais se deixou
sensibilizar ou seduzir pelas inovações estéticas às
quais fizemos referência, nos parágrafos precedentes, surge
outra, de teor ainda mais acentuadamente verbal e discursivo,
que se manifesta pela necessidade de impor um limite ao que
vislumbra constituir um mero processo de dissolução da estrutura
da arte poética, em cujo bojo teriam sido abrigados modismos
e experiências muito pouco consistentes.
Obviamente, a
complexidade de pensamento que orienta essas duas vertentes
não comporta reducionismos ou simplificações, pois subjacentes
à exteriorização de cada uma delas estão vetores gerados pela
multifacetada cosmovisão que habita a sociedade contemporânea
e permeia todas as suas manifestações de natureza cultural.
Necessidades didáticas e teóricas nos, impelem,
contudo, a algumas particularizações que apenas parcialmente,
é claro, podem explicitar e esclarecer o intrincado panorama
em que se situa a poesia de nosso tempo.
Entre os poetas
que se inserem na vertente mais tradicional da poesia, realizando um trabalho estritamente verbal, buscando estabelecer
um diálogo com as estéticas antigas, e retomando a experiência
do discurso em sua plenitude, certamente há aqueles capazes
de criar obras autorais, singulares e de teor literário inconteste
e que, embora retomem uma dicção por vezes narrativa, não
olvidam as conquistas do século vinte e com essas estabelecem
fecundo diálogo. Porém, como não poderia deixar de ocorrer,
com estes certamente coexistem outros, cuja poesia
só faz retomar os excessos retóricos e vícios do passado,
inserindo-se numa faixa de produção tão dispensável quanto
a dos já mencionados diluidores exponenciais das vanguardas.
Estes últimos, naturalmente, seriam poetas empenhados em ressuscitar
uma grandiloqüência vazia, exagerada, retomando indesejáveis
vícios de anacronismo e ausência de criatividade. Nesta vertente,
mostra-se visível o que CARLITO AZEVEDO, com propriedade,
chamou, de "banalidades
de antiquário" (entrevista a CACTO n.3
poesia e crítica, 2003).
Particularizando
as vertentes da poesia contemporânea praticada entre nós,
e reconhecendo a função meramente didática dessa particularização,
escreve COSTA PINTO (2004:14):
"Existem duas idéias sobre a
poesia brasileira que são consen
suais, a ponto
de terem virado lugares-comuns. A primeira diz
que
um de seus traços dominantes é o
diálogo cerrado
com a
tradição. Mas não
qualquer tradição.
O marco zero,
por assim
dizer, seria
a poesia
que emergiu
com a Semana de Arte Moderna de 22.
A segunda idéia, decorrente da primeira, é que a segunda
idéia, decorrente da primeira,
é que
essa linhagem
modernista se bifurca em
dois eixos
principais: uma
vertente mais lírica, subjetiva, articulada em torno
de Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de
Andrade; e outra mais objetiva, experimental, formalista,
representada por Oswald de Andrade, João Cabral de Melo Neto e a poesia concreta.
Esse esquema tem função meramente didática.
Ninguém pode descartar a influência exercida ainda
hoje pela
poesia anterior à Semana de 22 (como mostraram os trabalhos
de revalorização do simbolismo
e a recuperação
de autores como Sousândrade e Kilkerry)"
Mas, se as dissonâncias
pareciam querer persistir, alguns fenômenos presentes na história
da literatura agora já apontam para visíveis e irreversíveis
confluências. Entre esses fenômenos, está o hibridismo dos
gêneros, isto é, a superação da rigidez das fronteiras que
os separavam. Sob a égide desse hibridismo, florescem expressões
de indiscutível intersecção É o caso do poema em prosa, do
prosoema, atualmente cultivado por muitos de nossos mais destacados
poetas.
Focalizando a
questão, HAROLDO DE CAMPOS (A
ruptura dos gêneros na literatura latino-americana, 1977,
p.15-16) reconhece que o fenômeno do hibridismo tem raízes
profundas no complexo tecido social em que se manifesta
e assinala:
"O
'hibridismo dos gêneros', no contexto da revolução indus
trial que se inicia na Inglaterra na segunda metade do
século
XVIII, mas que
atinge o seu auge, com o nascimento da gran -
de
indústria, na segunda
metade do
século XIX, passa
a se
também
com o hibridismo
dos media, e a
se alimentar
dele.
[...]
A linguagem descontínua
e alternativa,
característica da
sação, vai encontrar
na simultaneidade e no fragmentarismo do
do jornal seu
desaguadouro natural."
Ora, é inegável
a crescente onda de hibridização de gêneros literários presente
em todas as literaturas do globo. Se esta onda é definitiva
ou passageira, somente a história poderá responder com exatidão.
Mas, de qualquer forma, os conceitos de definitivo e de exato
não encontram guarida nos domínios da estética nem da literatura,
em particular. Certamente existem progressivos movimentos
de interpenetração de tendências: diálogo, osmose, intersecção,
confluência, movimentos que se intercalam ou se entrelaçam
na prática da poesia. Mosaico, deslocamento, jogo de espelhos
e alternâncias: neste locus se movimenta o fluxo da produção poética contemporânea.
Mais uma vez,
recorremos às lúcidas ponderações de ÁVILA (2004), que, no
recente livro "Poesia pensada", bem refletiu sobe o tema:
"Enfim, uma nova
época parece solicitar uma nova
poesia, um
novo poeta preparado
para os desafios do momento,
o que não
implica, porém,
ignorar as formas e estilos do passado.......
Talvez justamente
a convivência entre procedimentos antigos
e modernos,comprovada
hoje por toda parte,
a via
que con-
duzirá a poesia
a poesia a algum futuro possível.
De resto, is-
so é o que cada
vez mais vem ocorrendo no universo
cultural
graças
às novas
tecnologias, ou seja, a possibilidade de aces-
so e utilização
das artes e linguagens de épocas distintas
(não
só da nossa),
como se estivéssemos vivendo
todos os tempos
em um só.
"Portanto, se a
dilaceração do tecido poético apontada pelos movimentos vanguardistas
do princípio do século vinte parecia somente empenhada na promoção de uma absoluta e espetacular ruptura de formas,
estruturas e regras, uma compreensão mais ampla de seu significado,
demonstra, hoje, o contrário. Da dilaceração e das dissonâncias,
forja-se um panorama de confluências e intersecções, onde
se erige a nova prática da poesia, ainda em grau de prototexto,
mas já contendo em sua essência a irreversível tendência
polifônica e inventiva que caracteriza nosso tempo: múltiplo,
polissêmico, paradoxal e aberto.
*
Beatriz Amaral nasceu em São
Paulo, é poeta e mestre em Literatura e Crítica Literária
pela PUC-SP. Publicou, entre outros livros, Poema
sine praevia lege (Massao Ohno, 1993), Planagem
(Massao Ohno, 1998) e Alquimia
dos Círculos (Escrituras Editora, 2003).
*
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da autora e um ensaio
sobre Rodrigo Garcia Lopes.
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