GALERIA
LEILA
PUGNALONI
A
ESSÊNCIA DO DESENHO
Nilza Knechtel Procopiak
Uma das grandes artistas
paranaenses, Leila Pugnaloni nasceu no Rio de Janeiro e foi
nossa sorte ela ter adotado Curitiba para viver.
E também, porque as artes são generosas na extrema
liberdade que é concedida aos artistas, elas permitem
a eles não somente escolher onde morar, mas passar
à história da arte vinculados ao local onde
residem. É muito comum nos catálogos de exposições
a frase - "Vive e trabalha em tal cidade" - apresentada
no resumo curricular.
Pois bem, Leila mora aqui desde 1968 e segundo a crítica
de arte Adalice Araújo: "O ano de 80 marca o surgimento
do Grupo Convergência, formado por artistas muito jovens:
Aldo Dallago, Denise Roman, Emília Possani, Leila Pugnaloni,
Lúcia Bleggi, Marco Antonio Camargo, Mohamed, Paulo
Assis, Péricles Varella Gomes, Raul Cruz e Suzana Garcez
de Sá, em sua maioria, oriundos da Escola de Música
e Belas Artes, que freqüentam os ateliês do Centro
de Criatividade de Curitiba, tendo muito a aprender e a oferecer.
Estes jovens sentiam-se órfãos. Reclamavam tanto
da ausência de uma herança revolucionária
na arte paranaense como de discussões mais abertas
por parte dos professores da EMBAP... Confessa Leila Pugnaloni:
'Apoiávamo-nos em nós mesmos. Uma coisa que
a gente exercitava bastante era a crítica'... Em 82,
o Grupo Convergência recicla-se, dando origem ao Grupo
Bicicleta, formado por Antonio Carlos Schrega, Denise Bandeira,
Denise Roman, Eliane Prolik, Geraldo Leão, Leila Pugnaloni,
Luiz Hermano, Marco Antonio Camargo, Mohamed, Raul Cruz e
Rossana Guimarães."
Assim, além de integrante dos dois mais destacados
grupos de arte que Curitiba já teve, Leila realizou
mais de 20 exposições individuais e participou
em mais de 40 importantes mostras coletivas. Foi premiada
no 51º Salão Paranaense e recentemente participou
daII Bienal do Mercosul. Estudou artes em Curitiba, no Rio
de Janeiro e em Nova York.
Foi orientadora no Atelier
Aberto (mostras e cursos no espaço da artista); também
orientou desenho no Museu Guido Viaro, nos cursos de extensão
da UFPR, no Museu Alfredo Andersen, no MAC-PR, no SESC e,
em 96, fundou a Escola de Arte Leila Pugnaloni. Ilustrou diversos
livros, jornais e revistas e tem obras em importantes acervos
do Paraná e do Rio de Janeiro. Foi suplente e membro
titular do Conselho Estadual de Cultura do Estado do Paraná.
Extremamente preocupada com questões estéticas
e teóricas, Leila é uma das grandes estudiosas
da história e filosofia das artes. E isto se reflete
em sua arte: seu desenho - que ilustra nossa coluna - tem
um poder de síntese, de conhecimento profundo de forma,
de equilíbrio que é raro hoje em dia.
Observando seu traço, vemos como é leve - decidido,
porém suave. Produto do deslizar da caneta na superfície
do papel, a composição ali, surgida espontânea
e rápida, dá conta de toda uma situação
de vida e conta uma história. Não que as formas
sejam narrativas; elas são muito sintéticas
para isto; todavia o domínio que a artista possui do
material e a maneira como ela investe em sua criação
a distinguem como uma das maiores desenhistas do Brasil.
E mais, Leila consegue
embutir em cada obra uma carga do que o alemão chama
de weltanschauungou a "concepção pessoal
do mundo" que enfatiza a sua autoria. Um desenho de Leila
é sempre um desenho de Leila, lembrando e semi-parafraseando
"uma rosa é uma rosa" de Gertude Stein.
E a artista possui um
tão vasto repertório de formas e de imaginação
que torna único cada desenho, porém prevalecendo
o reconhecimento da autoria para quem olha, quer seja abstrato
ou não.
Nunca me esqueço
do que diz Uiara Bartira: "O artista tem que ter carisma!"
Concordo plenamente com ela porque a produção
em artes visuais tem que, de certo modo, refletir algo do
artista - tem que ser muito pessoal. Não concordo com
obras feitas a duas, a quatro, seis mãos. Grosso modo,
é como gerar um filho coletivo. Não existe isto
de criação coletiva. Mesmo no teatro, que é
uma criação múltipla por excelência,
o que funciona é a reunião de diversos talentos
com suas individualidades destacadas, uma vez que o teatro
lida com a interação entre elas.
Outro aspecto que não
podemos esquecer é que o teatro é uma arte de
representação e as artes visuais trabalham com
a apresentação - estas duas modalidades artísticas
são radicalmente diferentes. Do artista plástico
não se exige atuação ao vivo.
Fora as performances - que têm muito a ver com o teatro,
incluindo o nome, mas que também são outra coisa
- o artista plástico geralmente trabalha em ateliers
e longe dos olhos do público. O que ele mostra normalmente
não é a sua atuação, e sim, o
produto de sua atuação que é a obra de
arte.
Este é o motivo de boa performance ser rara e do artista
plástico fazer, ao invés da performance, uma
atuação e não uma apresentação,
baseando-se mais em técnicas teatrais do que elementos
das artes visuais. Sobre performance, voltarei a falar.
Fiquemos agora com o desenho essencial de Leila.
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Conheça Leila
Pugnaloni, leia um ensaio
sobre a artista e confira suas exposições
e atividades.
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