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MOVIMENTOS
DE
CÂMERA
Rodrigo
Garcia Lopes
travelling
Os
jardins
do
olho
se propelem
à
velocidade do tempo ele confere
o
além de sua própria pele
entre
tatuagens de fome. Se atreve
em
insistir sentir dor, algum
odor
de penhasco ou penumbra
no
corpo em silêncio que se afasta
enquanto penetra sua própria face.
close
Num
segundo
a
flor
se
fecha
como
dedos
no
vazio de seu segredo.
plano
americano
Carregamos o
corpo,
frágil
sopro
em
movimento.
Criança, dois traços verticais eram pessoas.
Imagens se abrem, vazias, como biombos.
O que
estava escrito na grama dos eventos.
Chegamos aqui, no entanto estamos em movimento.
contraplongée
Rebatimento de
luz,
rouca
voz
no espelho como ausência de silêncio
que
não existe, bolhas na superfície
dessa
face, água tão pouca.
plano
fixo
Música
da
face
-
língua
dos
dedos
-
desejo
pelo
que
não
existe
mais.
zoom
A
um
passo
de
passado,
paraíso:
O que
se move é o percebido
(formiga na folha de capim
dedos
roçando o corpo morno
bem-te-vi furando o silêncio da manhã
o vôo
do pequeno falcão
o
verde visível tremulando contra o azul
sua
face inclinada olhando a parede)
As
coisas existem agora porque estamos aqui.
Quando não estivermos mais, continuarão existindo,
Mas
sem seu amante para lhe dar ainda mais sentido.
Os
instantes, sem as coisas, não são nada.
Pássaros debandam, não sei como chamá-los.
A
voz, admitindo fracasso, se afasta mas deixa seus rastros.
(Poemas extraídos do livro Nômada)
Rodrigo Garcia Lopes
nasceu em Londrina (PR), em 1965. Publicou os livros de poesia
Solarium (1994), Visibilia (1997), Polivox
(2001) e Nômada (2004), além de volumes de tradução de
Sylvia Plath, Laura Riding, Whitman e Rimbaud, entre outros
autores. É um dos editores da revista de literatura e artes
Coyote. É autor do blog
www.estudiorealidade.blogspot.com
e professor de Português e Literatura Brasileira na Universidade
da Carolina do Norte, em Chapel Hill
(EUA). E-mail:
rgarcialopes@gmail.com.
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Leia
também outros poemas (I
e II)
de Rodrigo Garcia Lopes um
ensaio sobre o autor.
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