esta manhã. uma manhã. um impedimento. tudo em resumo é querer fazer as coisas enormes. nenhum agrimensor saberia, daqui para ali. este ponto que começa a ponto de você entrar em casa, saia balonada, salto, fita em laço no pescoço. não sei se dry martine ou se te pego para dançar. se coloco este verso aqui. aqui. você repete. você tem medo que eu vá. você me diz: sarah. mas pode chamar clora ou ella. estarei bonito, camisa de mangas e perfumado. meu cheiro de super-herói americano ou prova de resistência. homem de ferro que se corrói todo à luz dos teus bilhetes segredados, copiados com carbono. cópias que você guarda nos fichários de papelão, ordem alfabética de amores, um arquivo de aço e senha segredada. mas também possuo algo de guardar. e tudo o que tenho é este pedaço do teu amor que trago no bolso, vinte centavos e uma caneta bic. e uma remington 1959 que ganhei ao entrar no curso de engenharia. a engenharia perdida. ninguém sonha coisas claras, superfícies ou copos d´água. ninguém. e desta feita, ainda moro numa cidade pequena, bordada de ruas estreitas e um gosto duvidoso por camionetes. e ainda planejo estratagemas de como ocupar teu corpo e a mobília deste quarto, deste quarto de mundo, sofás marrons, papéis de parede com vista para o mar, o mar e seu deus mais fundo. no mês de abril você volta, eu sei que volta. e trará as compras, cada coisa em seu compartimento, sua dispensa, coisas guardadas, afetos, rancores e jóias penhoradas. mas tudo será nosso: uma medalha de nossa senhora da conceição, seis lotes de areia, um pingente, apólices vencidas, uma lata de patê de ganso que veio na cesta do último natal. aqui em san maarten o aeroporto margeia a praia da maho. esticado na areia, posso ver alguém que enrijece os olhos fechados e as mãos postas antes dos trens de pouso tocarem a pista. com o vento, retornarei ao pó. de onde vim.
estamos em casa, senhora, como estávamos dez anos antes, e o calendário que nunca move, ali, nunca riscado os dias que passam, os dias santos, da graça e outro dia, mais. na tv um americano fazia bolhas de sabão gigantes. uma chegou a ter tamanho de baleia. teimar um pensamento na enormidade e beleza das coisas inúteis: bolhas de sabão, carne de baleia, um poema, calendário de mil novecentos e setenta e três. e no discurso que falha, vai embora, assim. mais alto de não ter e vai embora. mais alto que um dia sem fim, de chama e fuligem. alguém que te masca, masca, sem fim como um chicle entre línguas e dentes de violet beauregard. declaro guerra a você, senhora, entrincheirado o coração e víceras ardentes. meu arsenal é pobre, da primeira grande guerra desafia tonto seus mil megatons e pistolas desintegradoras. a palavra que fulmina. chuva, fuligem, chicle. estou marcado e atingido. alvo de primeira, patinho de seu parque de diversões no estojo de blush. meu traje é passeio completo.
depois da noite iluminada, colorindo os letreiros vivos, você poderia percorrer a cidade comigo. vou completar o tanque. quarenta e quatro litros. não, acho que menos, dez a menos. este consome mais. numa parada comeremos doces caseiros ou, se quiser, restos de hóstias da fábrica imaculada, o pão e o vinho, o corpo do cristo no lanche da madrugada. o lanche da madrugada tem o sugestivo nome: messias. condimentos divinos, sucos a perder de vista. falo sério quando o assunto é partir. já preparei as malas, elas estão ali, no canto da sala, a espera. se você preferir, toma tudo na mão e vou embora de malas prontas, de avião supersônico, com meus braceletes de madri, uma dor que um dia passa e um livro de sete gramas debaixo do braço para decorar cada verso tosco, cada mimo e achado. se você quiser. mas acabo ficando e vou percorrer seis quilômetros do seu apartamento com vista para esse enorme oceano. e não preciso dizer mais nada, vou percorrer os seis quilômetros da sua estrada de tijolos amarelos. ou serão pedras portuguesas? vou embora, me disfarço com óculos e bigodes postiços em alguma alfândega até te acenar com um lenço numa praia da costa amalfitana. as pilhas estão fraquejando, como esta canção. e eu ainda tinha alguma coisa a te dizer.
no dia do teu aniversário será possível avistar duas luas no céu. explico, com precisão e solenidade que a ciência nunca me permitiu, que marte vai estar mais brilhante e será possível enxergá-lo tal qual a lua, a mesma de sempre. concluo a dizer que próximo evento só irá acontecer novamente em 2.287. você se admira de tudo isso e de um tanto de coisas que sempre falo: verdade? mas sorrio. e, dessa forma, tu já aprendes a desconfiar. e esta correspondência tem um único destinatário, meu correspondente secreto nalguma agência de notícias sentimentais. eu te transmito o último atentado, o último cargueiro raptado por piratas somalis, o vírus da moda, a übermodel mais linda. eu te transmito toda segurança, de ser grande, ter três metros de altura atravessando a rua em direção do teu edifício. eu te transmito meus cumprimentos e aquela sensação boa e estranha e conforto. aquela mesma, na hora em que acariciava certo nome inscrito no metal que demarca o lote onde repousa tua mãe. seu terreno. minha única lavra. e ainda escuto você dizer: isso aqui é meu. enquanto nada digo. e tu ruminas um punhado de sentido. o teu conforto, a tua mágica. e eu, silencio. você me guarda um segredo, o mesmo do pedido feito ao atirar o dente de leite no telhado. ou aquele astro que cai no céu. o mesmo céu onde hoje avistas duas luas no dia do teu aniversário. até alguém falar em marte e marte me fazer cair das nuvens e em queda livre divago que outro evento igual não verei. nem tu. não estaremos aqui. nem ninguém. |