SOB UM CÉU DE ACASOS
há um tempo em que as ilusões se dissipam
e a corda que nos sustentava se rompe
há um tempo em que as hastes se curvam
derrubando as flores soberbas
os botões que seriam buquês
há um tempo em que as pedras trincam
raridades se partem
achados se perdem
e ninguém sabe aonde foram parar os poemas
os guarda-chuvas
os sortilégios
os pássaros
as bonecas das meninas mortas
os chapéus que sumiram na ventania
há um tempo um tempo um só tempo
depois não há mais tempo
porque soaram as sirenes que proíbem a fantasia
a realidade não acolhe planos
sob um céu de acasos e sonhos minados
QUASE A INFÂNCIA
na tarde líquida
caramujos deixam viscosidade e grude
entre as árvores
cascas camuflam-se nos troncos
até que antenas marrons
despontam para lembrar
que é tenso e úmido
lamber escargots
como o primeiro beijo
prossigo entre as folhas
em rotas de seda
tecelã da brisa que acende
a memória de um canto breve
até a última ciranda
perdida nos galhos
trincar a fruta
entre a língua
o gozo
e o sumo
FINISHED
porque há canções de chegada
e há canções de partida
o coração tomo pela mão
quebrável
no último beijo
transversal de línguas
poliglota
falo de amor
delicadezas doem
não sei se já disseram
mas você sabe como matar pássaros |