ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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DOUGLAS DIEGUES



U portunhol salbaje es la língua falada en la frontera du Brasil com u Paraguai
por la gente simples que increiblemente sobrevive de teimosia, brisa, amor al
imposible, mandioca, vento y carne de vaca. Es la lengua de las putas que de
noite vendem seus sexos na linha da fronteira. Brota como flor de la bosta de
las vakas. Es una lengua bizarra, transfronteriza, rupestre, feia, bella,
diferente, que impacta. Es la lengua de mia mãe y de la mãe de mis amigos de
infância. Es la lengua de mis abuelos. Porque ellos sempre falaram em
portunhol salbaje comigo. Us poetas de vanguarda primitibos, ancestrales de
los poetas contemporâneos de vanguarda primitiba, non conociam u
lenguage poético, justamente porque ellos solo conocian un lenguaje, u
lenguaje poético. Con los habitantes de las fronteras du Brasil com u
Paraguay acontece mais ou menos la misma coisa. Ellos solo conocen u
lenguaje poético, porque ellos no conocen, non conhecem otro lenguaje. O
portunhol salbaje es una musica diferente, feita de ruídos, rimas inesperadas,
amor, água, sangre, árboles, piedras, pássaros, ventos, fuego, esperma.


* * *

animales que dan lucro
animales que no dan lucro
animales que dan flores
animales que no dan flores

animales que se alimentam de animales
animales refinados – ou bestiales
animales feitos de bosta y mistério
animales terrestres y aéreos

animales eróticos ou paranóicos
animales comunes ou exóticos
animales que dan leite
animales que non existem

parece até una peça del gran Ionesco
animales pra animal ninguno botar defeito

* * *
xota buraco dentado buçanha buceta
cona papaya racha
tatú buza babaca
perereca concha conchita concheta

eis algunos de los nombres de la bagina
que hace miles de anos inventando viene el povo
que bota esplendidos hovos
com los que posso inbentar inéditas rimas

la poesia está morta mas continua viva
mesmo que uns a queiram toda certinha
sem gosma íntima sem esperma sem suíngue sem chupetinha
y sem la endorfina verbal dum glauco dum back dum leminski dun manoel dum piva

para compensar toda essa literatura morta
restam al menos el pau bién duro dentro de la carnuda xoxota

* * *
bocê guarda a sua dor
en el fundo de la entranha
non fica fazendo manha
aguanta firme todo esse horror

bocê non finge u dolor que sente
real demais – parece ficción
a dor que dói sem doer nu corazón
nem bocê nem ninguém entende

bocê sofre calado la dor que non entende
transforma ela em rima
em mel, em olhos abertos, em endorfina
la dor quasi nem se siente

entre el futuro y tudo lo mais que embolorou
bocê esconde legal a sua dor


* * *


non adianta ter segundo grau completo
graduacion pós-graduación doctorado en la gaveta
um bom curriculum que garanta um buen emprego
que nasceu pra ser una bestia sempre será una besta

non adianta dominio de la lengua sem la gosma de la experiência
almoçar jantar cagar vomitar grandes assinaturas
que se estendem como grifes de la más alta cultura
que naceu pra ser una besta siempre será una bestia

non adianda saber ler y escrever correta
mente, colecionar diplomas que os otários veneram
conhecimento nunca foi sabiduria nem aqui na china nem lá nu Iran
quem nasceu pra ser una bestia sempre será una besta

muchos posam de sábio en la mais badalada de las fiestas
mas como diria titia Gertrude: una bestia es una bestia es una bestia



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Douglas Diegues nasceu no Rio de Janeiro, mas reside atualmente em Campo Grande (MS). Publicou Dá Gusto Andar Desnudo Por Estas Selvas – Sonetos Selvagens (2003). Escreve no blog
http://portunholselvagem.weblogger.terra.com.br.

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Leia também um ensaio do autor sobre Ademir Assunção.

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