FABRÍCIO
MARQUES
ORAÇÃO
sob
o zimbro
blindo
meu coração
zelai
por mim, Senhor
e
livrai-me do zumbido de balas
do
fundo do poço
da
zanga do patrão
que
eu volte pra casa
antes
que o dia finde
que
não volte órfão
zero
entre ninguéns
livrai-nos
do azar
de
onzenas a fartar
que
eu volte
sem
ziquiziras,
zanzando
salvo
e são
DEMARCANDO
O TERRITÓRIO
Estou
(aqui
não tem lugar pra flâneur
aqui
ninguém
canta ou baila, só há
dias
úteis cheios de horas inúteis
pistas
que despistam
tudo
é texto fora do contexto
aqui
Goethe não grita "mais luz",
nada
transborda ou sobra
aqui
não tem aqui e agora
considera:
desse contorno
ninguém
entra ninguém sai)
Entre
FAÇA
VOCÊ MESMO A SUA CAPELA SISTINA
(Versão
nº 2)
Me
concentro
Não
há centro
Só
margens
do
centro
a
céu aberto
Dentro
o
movimento da urbe
alígero
Súbito
breu
periferia
à
espreita
Luz
que se move
periferida
perniaberta
Entre
brechas
me
concentro
Desde
o centro
secreto
em
surdina
que
súbito
se
abre
(sob
o céu
da
luz
uma
outra luz
se
insinua)
À
margem
do
mundo
Não
há
centro
Estou
no
páreo
NOTA:
Faça você mesmo a sua Capela Sistina - Nome
da série de pinturas e poemas do artista plástico
Pedro Moraleida (1977-1999)
*
Fabrício Marques,
poeta e jornalista, nasceu em Manhuaçu (MG), em 1965.
Publicou os livros de poesia Samplers (2000), Meu
Pequeno Fim (2002) e o ensaio Aço em Flor: a
Poesia de Paulo Leminski (2001). É editor do Suplemento
Literário de Minas Gerais.
*
Leia também o
ensaio
do autor sobre Antonio Risério e a
entrevista
que realizou com o mesmo autor.
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