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FREDERICO BARBOSA



 

contrafeito1

chama-se assim ao papagaio
a vulgaríssima
e apreciada ave
trepadora

que por contrafação
fica com as cores
vermelha e amarela
dispostas
sobre a verde
que lhe é própria

ostentando-se
com uma plumagem
linda e variada

os papagaios são de cor verde-amarela,
quando não contrafeitos pelo homem

são abundantes
e os habitantes
os contrafazem

variando-lhes as penas de cor
escarlate e amarela
com o humor
de rãs rajadas

os papagaios assim contrafeitos
e que falam
vendem-se por alto preço

não houve mais papagaio verde
todos ficaram lindamente
papagaios contrafeitos

 

1 Ready-made encontrado em F. A. PEREIRA DA COSTA - Vocabulário Pernambucano, 2a Edição, Secretaria de Educação e Cultura - Governo do Estado de Pernambuco, Recife, 1976, p.263


da palavra escravo

sklábos esclavos
eram todos eslavos
antigos cativos
de carlos magno

do slave do inglês
ao ibérico escravo
são todos vocábulos
do mesmo passado

 


da boça à bossa

objetos de bordo
atados à boça
balançam e dançam
em baques e sovas

na boça no cabo
atados à proa
balançam e dançam
sem berros na forca

em terras estranhas
são negros boçais
estúpidos rudes
ignorantes banais

mas longe da boça
de servos à força
balançam e dançam
seu banzo blues troça

resistem no samba
no jazz capoeira
balançam e dançam
batuque rasteira

inventam a bossa
vingança da boça



revers

*

amor que arte
em querer medido
claro riso

amor que me queima
fogos de artifício
exata girândola

vê se me esclarece
nem toma nem doma
multiplica e soma

**

) não nãos (

eis que não me sei
talvez
todo a cada vez

) sim sins (


***

amor que vence os tristes
vem se a mim

abrasa um sol desejo

para que eu saiba
ser claro sim

*


Frederico Barbosa, poeta, crítico e professor de literatura, nasceu em Recife (PE), em 1961. Publicou cinco livros de poesia, Rarefato (1990), Nada Feito Nada (1993), Contracorrente (2000), Louco no Oco sem Beiras (2001) e Cantar de Amor Entre Escombros (2002). Organizou, em parceria com Claudio Daniel, a antologia Na Virada do Século, Poesia de Invenção no Brasil (2002).

*

Leia também um ensaio sobre o autor

 

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