Leonardo
Gandolfi
O século
XX viu o afastar-se das literaturas brasileira e portuguesa.
Lá, a revista Orpheu tentou se aproximar do continente
europeu, vizinho então distante. Aqui, a Semana de
22 quis refundar nossas matrizes culturais, rompendo assim
com possíveis laços que evidenciassem dependência
ou mesmo alguma influência portuguesa. Nessa relação
de afastamento, alguns nomes são exceções:
Sá-Carneiro e Pessoa no Brasil; Cecília e Jorge
de Lima em Portugal.
A conseqüência
de tal processo é a diferença acentuada dos
caminhos trilhados, de dicções. Mesmo superados
os primeiros desafios modernistas, pouco foi o intercâmbio
poético no último século e portanto poucos
foram os leitores da poesia portuguesa no Brasil. O acesso
é restrito. Os últimos anos porém apontam
para uma mudança de andamento, ainda que pequena -
diálogos sobretudo pessoais têm aproximado as
tradições.
Esta pequena
reunião quer vir a tempo de confirmar essa preocupação
e de tentar dar a ver alguns nomes já grandes e inéditos,
em livro, aqui. Muitos poetas não estão presentes,
pois se trata de uma seleção e as seleções
excluem. Jorge de Sena, Eugénio de Andrade e Herberto
Helder já possuem suas antologias brasileiras. Já
nomes incontornáveis como Sophia de Mello Breyner Andresen,
Alexandre O'Neill, Mário Cesariny, António Ramos
Rosa, Casimiro de Brito, Fiama Hasse Pais Brandão,
Joaquim Manuel Magalhães, João Miguel Fernandes
Jorge e António Franco Alexandre ainda esperam oportunidade.
O título O seu a seu tempo - tomado de empréstimo
de um livro de Luiza (esta sim presente) - talvez resuma bem
este momento.
02/07/04