POET:
A LYING WORD
You
have now come with me, I have now come with you, to the
season that should be winter, and is not: we have not come
back.
We have
not come back: we have not come round: we have not moved.
I have taken you, you have taken me, to the next and next
span, and the last-and it is the last. Stand against me
then and stare well through me then. It is a wall not to
be scaled and left behind like the old seasons, like the
poets who were the seasons.
Stand
against me then and stare well through me then. I am no
poet as you have span by span leapt the high words to the
next depth and season, the next season always, the last
always, and the next. I am a true wall: you may but stare
me through.
It is
a false wall, a poet: it is a lying word. It is a wall that
closes and does not.
This
is no wall that closes and does not. It is a wall to see
into, it is no other season's height. Beyond it lies no
depth and height of further travel, no partial courses.
Stand against me then and stare well through me then. Like
wall of poet here I rise, but am no poet as walls have risen
between next and next and made false end to leap. A last,
true wall am I: you may but stare me through.
And
the tale is no more of the going: no more a poet's tale
of a going false-like to a seeing. The tale is of a seeing
true-like to a knowing: there's but to stare the wall through
now, well through.
It is
not a wall, it is not a poet. It is not a lying wall, it
is not a lying word. It is a written edge of time. Step
not across, for then into my mouth, my eyes, you fall. Come
close, stare me well through, speak as you see. But, oh,
infatuated drove of lives, step not across now. Into my
mouth, my eyes, shall you thus fall, and be yourselves no
more.
Into
my mouth, my eyes, I say, I say. I am no poet like transitory
wall to lead you on into such slow terrain of time as measured
out your single span to broken turns of season once and
once again. I lead you not. You have now come with me, I
have now come with you, to your last turn and season: thus
could I come with you, thus only.
I say,
I say, I am, it is, such wall, such poet, such not lying,
such not leading into. Await the sight, and look well through,
know by such standing still that next comes none of you.
Comes
what? Come this even I, even this not-I, this not lying
season when death holds the year as steady count-this every-year.
Would
you not see, not know, not mark the count? What would you
then? Why have you come here then? To leap a wall that is
no wall, and a true wall? To step across into my eyes and
mouth not yours? To cry me down like wall or poet as often
your way led past down-falling height that seemed?
I say,
I say, I am, it is: such wall, such end of graded travel.
And if you will not hark, come tumbling then upon me, into
my eyes, my mouth, and be the backward utterance of yourselves
expiring angrily through instant seasons that played you
time-false.
My eyes,
my mouth, my hovering hands, my intransmuttable head: wherein
my eyes, my mouth, my hands, my head, my body-self, are
not such mortal simulacrum as everlong in boasted death-course,
nevelong? I say, I say, I am not builded of you so.
This
body-self, this wall, this poet-like address, is that last
barrier long shied of in your elliptic changes: out of your
leaping, shying, season-quibbling, have I made it, is it
made. And if now poet-like it rings with one-more-time as
if, this is the mounted stupor of your everlong outbiding
worn prompt and lyric, poet-like-the forbidden one-more-time
worn time-like.
Does
it seem I ring, I sing, I rhyme, I poet-wit? Shame on me
than! Grin me your foulest humour then of poet-piety, your
eyes rolled up in white hypocrisy-should I be one sprite
more of your versed fame-or turned from me into your historied
brain, where the lines read more actual? Shame on me then!
And
haste unto us both, my shame is yours. How long I seem to
beckon like a wall beyond which stretches longer length
of fleshsome traverse: it is your lie of flesh and my flesh-seeming
stand of words. Haste then unto us both! I say, I say. This
wall reads 'Stop!' This poet verses 'Poet: a lying word!'
Shall
the wall then not crumble, as to walls is given? Have I
not said: 'Stare me well through'? It is indeed a wall,
crumble it shall. It is a wall of walls, stare it well through:
the reading gentles near, the name of death passes with
the season that it was not.
Death
is a very wall. The going over walls, against walls, is
a dying and a learning. Death is a knowing-death. Known
death is truth sighted at the halt. The name of death passes.
The mouth that moves with death forgets the word.
And
the first page is the last of death. And haste unto us both,
lest the wall seem to crumble not, to lead mock-onward.
And the first page reads: 'Haste unto us both!' And the
firt page reads: "Slowly, it is the first page only.'
Slowly,
it is the page before the first page only, there is no haste.
The page before the first page tells of death, haste, slowness:
how truth falls true now at the turn of the page, at time
of telling. Truth one by one falls true. And the first page
reads, the page which is the page before the first page
only: 'This once-upon-a-time when seasons failed, and time
stared through the wall nor made to leap across, is the
hour, the season, seasons, year and years, no wall and wall,
where when and when the classic lie dissolves and nakedly
time salted is with truth's sweet flood nor yet to mix with,
but be salted tidal-sweet-O sacramental ultimate by which
shall time be old-renewed nor yet another season move.'
I say, I say.
POETA: PALAVRA MENTIROSA
Você chegou comigo, eu cheguei com você, à
estação que devia ser inverno, e não
é: não retornamos.
Não
retornamos: não voltamos ao começo: nem nos
movemos. Eu levei você, você me levou, ao próximo
e próximo espaço de tempo e ao último
- e é o último. Fique contra mim, então,
e encare e olhe bem através de mim, então.
Não é muro algum para ser escalado e deixado
para trás como as velhas estações,
como os poetas que eram as estações.
Fique contra
mim, então, e encare e olhe bem através de
mim, então. Não sou nenhum poeta como você
que tem a cada espaço de tempo saltado as altas palavras
rumo a próxima profundidade e estação,
sempre a próxima estação, sempre a
última, e a próxima. Sou um muro de verdade:
só lhe resta olhar bem através de mim.
É
um muro falso, um poeta: é uma palavra mentirosa.
É um muro que fecha e não se fecha.
Isto não
é nenhum muro que fecha e não se fecha. É
um muro para se olhar dentro, não é nenhuma
outra alta temporada. Além dele não existem
altos e baixos de mais viagens, sem meio do caminho. Fique
contra mim, então, e encare e olhe bem através
de mim, então. Como muro de poeta fico, embora não
seja um poeta como um muro sendo erguido entre o próximo
e próximo vão e tornados falsos e intransponíveis.
Enfim, sou um muro de verdade: só lhe resta olhar
bem através de mim.
E a fábula
não é mais sobre a ida: não é
mais uma fábula de poeta de uma falsa ida rumo a
uma visão. A fábula é sim sobre um
ver de verdade rumo a um saber: só resta olhar através
do muro agora, através mesmo.
Não
é um muro, não é um poeta. Não
é um muro mentiroso, não é uma palavra
mentirosa. É uma beira escrita de tempo. Nem mais
um passo, ou em minha boca, meus olhos, você vai despencar.
Chegue perto, encare e olhe bem através de mim, fale
só do que você vê. Mas, oh, rebanho de
vidas totalmente apaixonadas, nem mais um passo agora. Senão
em minha boca, em meus olhos, vocês hão de
cair, e não ser mais vocês.
Em minha
boca, em meus olhos, estou dizendo, estou dizendo. Não
sou nenhum poeta como muro transitório que te conduza
por um tão lento terreno de tempo, como o que mediu
seu único espaço de tempo com ciclos interrompidos
de estação outra e outra vez. Não te
conduzo. Você chegou comigo, eu cheguei com você,
a seu último ciclo e estação: só
assim eu viria com você, só assim.
Estou dizendo,
estou dizendo, eu sou, é, tamanho muro, tamanho poeta,
tamanho não mentir, tamanho não conduzir.
Espere a vista, e olhe bem, saiba que por tal parar assim
nenhum de vocês há de vir depois.
Virá
o que? Virá até este eu, até este não-eu,
esta estação que não mente quando a
morte mantém o ano em tempo - este todos-os-anos.
Você
não veria, não saberia, não contaria
o tempo? Então o que você faria? Então
por quê você veio aqui? Para saltar um muro
que não é muro, e sim um muro de verdade?
Para me atravessar e despencar em meus olhos e boca que
não são as suas? Para me depreciar aos gritos
como se eu fosse um muro ou poeta enquanto seu caminho passava
ao ápice da queda que pareceria?
Estou dizendo,
estou dizendo, eu sou, é: tamanho muro, tamanho fim
de viagem gradual. E se você não escutar, venha
tropeçando sobre mim, em meus olhos, minha boca,
e ser o seu dizer às avessas de vocês mesmos
expirando zangadamente durante estações instantâneas
que enganaram vocês usando o tempo.
Meus olhos,
minha boca, minhas mãos ariscas à espreita,
minha cabeça intransmutável: em que meus olhos,
minha boca, minhas mãos, meu corpo-eu, não
é nenhum simulacro mortal como o que eternamente
vocês construíram contra a própria morte,
pra manter vocês eternamente no alardeado caminho
da morte, nuncamente? Estou dizendo, estou dizendo, não
sou feito de vocês, desse jeito.
Este corpo-eu,
este muro, este discurso poeteiro, é aquela última
barreira há tanto tempo evitada durante suas mudanças
elípticas: de seu saltar, seu evitar, ninharias de
estação, eu o fiz, está feito. E se
agora poeteiramente soa com como-se-mais-uma-vez, este é
o estupor montado de sua eterna perseverança vestida
pronta e lírica, poeteiramente - o proibido mais-uma-vez
vestido como tempo.
Pareço
soar, cantar, rimar, tudo poetizar? Que vergonha de mim,
então! Então sorria-me seu humor repugnantissíssimo
de poeta carola? - seus olhos revirados de branca hipocrisia
- deveria eu ser mais uma fada da sua fama versificada -
ou transformado em seu cérebro historiado, onde as
linhas significam mais atuais. Que vergonha de mim, então!
Seja dada
a nossa pressa, minha vergonha é sua. Por quanto
tempo pareço acenar como um muro além do qual
se estendem um período mais longo dessa travessia
de carne: é sua mentira de carne e minha fileira
de palavras que parecem de carne? Seja dada a nossa pressa!
Estou dizendo, estou dizendo. Nesse muro se lê 'Pare!'.
Este poeta versa: 'Poeta: palavra mentirosa'!
Então,
não despencará o muro, como acontece com muros?
Eu não disse: "Encare bem através de
mim" É um muro de verdade, despencará.
É um muro de muros, encare bem através dele:
a leitura chega de mansinho, o nome da morte passa com a
estação que ela não era.
A morte
é um muro mesmo. Passar por muros, topar com muros,
é um morrer e um aprender. Morte é um saber-de-morte.
A morte que se sabe é a verdade vista na parada.
O nome da morte passa. A boca que se morte-move esquece
a palavra.
E a primeira
página é a última da morte. E seja
dada a nossa pressa, ou então o muro parecerá
não se despedaçar, e continuar falsamente.
E na primeira página se lê: 'Seja dada a nossa
pressa!' E na primeira página se lê: 'Vai com
calma, esta é só a primeira página'.
Vai com
calma, é só a página antes da primeira
página, não é preciso pressa. A página
antes da primeira página relata morte, pressa, lentidão:
quão verdadeira a verdade se acontecesse agora no
virar da página, em tempo de relatar. Verdade após
verdade seria verdade. E na primeira página se lê,
na página que é a primeira página antes
da primeira apenas: "Este era-uma-vez quando as estações
fracassaram, e o tempo encarava bem através do muro
e nem tentava saltá-lo, é a hora, a estação,
estações, ano e anos, sem muro, com muro,
onde quando e quando a mentira clássica se dissolve
e nuamente o tempo é salpicado com o doce dilúvio
da verdade ainda não impura, mas salgada maredocemente
- Ó, ultimação sacramental pelo qual
o tempo se renovelhecerá e nenhuma outra estação
ainda mudará". Estou dizendo, estou dizendo.