ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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PAUL ÉLUARD


 

 

L’AMOUREUSE

Elle est debout sur mes paupières
Et ses cheveux sont dans les miens,
Elle a la forme de mes mains,
Elle a la couleur de mes yeux,
Elle s’engloutit dans mon ombre
Comme une pierre sur le ciel.
Elle a toujours les yeux ouverts
Et ne me laisse pas dormir.
Ses rêves en pleine lumière
Font s’évaporer les soleils,
Me font rire, pleurer et rire,
Parler sans avoir rien à dire

 

 

A ENAMORADA

Ela está de pé sobre minhas pálpebras
e seus cabelos estão nos meus
Ela tem a forma de minhas mãos
Ela tem a cor de meus olhos
Ela é d evorada por minha sombra
Como uma pedra contra o céu.
Ela tem sempre os olhos abertos
E não me deixa dormir.
Seus sonhos em plena luz
Fazem evaporar os sóis
Me fazem rir, chorar e rir,
Falar sem ter nada a dizer.

 

 

ENTRE AUTRES

A l’ombre des arbres
Comme au temps des miracles,

Au milieu des hommes
Comme la plus belle femme

Sans regrets, sans honte,
J’ai quitté le monde.

Qu’avez-vous vu?

Une femme jeune, grande et belle
En robe noire très décolletée.

 

ENTRE OUTROS

À sombra das árvores
Como ao tempo dos milagres,

No meio dos homens
Como a mais bela mulher

Sem pesares, sem desonra,
Abandonei o mundo.

— O que tu viste?

— Uma jovem mulher, alta e bela
Em um vestido negro bastante decotado.

 

Traduções: Priscila Manhães

 

 

CACHÉE

 

Le jardinage est la passion, belle bête de jardinier. Sous les branches, sa tête semblait couverte de pattes légères de oiseaux. A un fils qui voit dans les arbres.

 

 

ESCONDIDA

 

A jardinagem é a paixão, bela besta de jardineiro. Sob os galhos, sua cabeça parecia coberta de leves patas de pássaros. A um filho que vê entre as árvores. 

 

 

LA NUIT

 

Caresse l’horizon de la nuit, cherche le coeur de jais que l’aube recouvre de chair. Il mettrait dans tes yeux des pensées innocents, des flames, des ailes et des verdures que le soleil ne inventa pas.

C’est ne pas la nuit qui te manque, mais sa puissance.

 

 

A NOITE

 

Acaricia o horizonte da noite, procura o coração de azeviche que a alvorada recobre de carne. Colocava nos teus olhos pensamentos inocentes, chamas, asas e a verdura que o sol não inventa.

Não é a noite que te falta, mas a sua força.

 

 

 

FIN DES CIRCONSTANCES

 

Un bouquet tout défait brûle les coqs des vagues

et le plumage entire de la perdition

rayonne dans la nuit et dans la mer du ciel.

Plus d’horizon, plus de ceinture,

les naufragés, pour la première foi, font des gestes

qui ne les soutiennent pas. Tout se diffuse, rien ne

s’imagine plus.

 

 

 

FIM DAS CIRCUNSTÂNCIAS

 

Um buquê todo desfeito incendia as cristas das ondas

e a plumagem inteira da perdição

ilumina dentro da noite e dentro do mar do céu.

Não mais o horizonte, não mais a cintura,

os naufrágos, pela primeira vez, fazem gestos

que não os sustentam. Tudo se difunde, nada se

imagina mais.

 

 

 

LE MIROIR D´UM MOMENT

 

Il dissipe le jour,

Il montre aux hommes les images déliées de l´apparence,

Il enlève aux hommes la possibilité de se distraire.

Il est dur comme la pierre,

La pierre informe,

La pierre do mouvement et de la vue,

Et son éclat este tel que toutes les armures, tous les masques en sont faussés.

Ce que la main a pris dédaigne même de prendre la forme de la main,

Ce qui a été compris n´existe plus,

L´oiseau s´est confondu avec le vent,

Le ciel avec sa vérité,

L´homme avec sa réalité.

 

 

 

O ESPELHO DE UM MOMENTO

 

Ele dissipa o dia,

Ele mostra aos homens as imagens soltas da aparência,

Ele retira dos homens a possibilidade de se distrair.

Ele é duro como a pedra,

A pedra disforme,

A pedra do movimento e da vista,

E seu clarão é tal que todas as armaduras, todas as máscaras são nele deformadas.

Isto que a mão pegou desdenhosa mesmo de pegar a forma da mão,

Isto que foi compreendido não existe mais,

O pássaro se confundiu como o vento,

O céu com sua verdade,

O homem com sua realidade.

 

 

Traduções: Virna Teixeira

 

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Paul Éluard, pseudônimo de Eugène Grindel (1895-1952), poeta francês. Na juventude, participou em Paris de movimentos de vanguarda como o dadaísmo e o surrealismo. Depois, durante a II Guerra Mundial, apoiou a Resistência contra o nazismo e engajou-se nas fileiras do Partido Comunista Francês (PCF), escrevendo poemas de inspiração política e de exaltação da mulher amada. Entre suas obras principais estão Os animais e seus homens (1920), Capital da dor (1926), O amor, a poesia (1929), Os olhos férteis (1936), Ao encontro alemão (1944) e Uma lição de moral (1949).

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Leia outras traduções de Paul Éluard.

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