ROBERT DESNOS
ROBERT DESNOS
À LA FAVEUR DE LA NUIT
Se glisser dans ton ombre à la faveur de la nuit.
Suivre tes pas, ton ombre à la fenêtre.
Cette ombre à la fenêtre c'est toi, ce n'est pas une autre, c'est toi.
N'ouvre pas cette fenêtre derrière les rideaux de laquelle tu bouges.
Ferme les yeux.
Je voudrais les fermer avec mes lèvres.
Mais la fenêtre s'ouvre et le vent, le vent
qui balance bizarrement la flamme
et le drapeau, entoure ma fuite de son manteau.
La fenêtre s'ouvre: ce n'est pas toi.
Je le savais bien.
NO DISFARCE DA NOITE
Deslizar em tua sombra no disfarce da noite.
Seguir teus passos, tua sombra na janela.
A sombra na janela é a tua, não outra, a tua.
Não abre essa janela atrás da qual te movimentas.
Fecha os olhos.
Queria poder fechá-los com meus lábios.
Mas a janela se abre e o vento, o vento
que, estranhamente, agita chama
e bandeira, encobre com seu manto minha fuga.
A janela se abre: não és tu.
Eu bem sabia.
AU MOCASSIN LE VERBE
Tu me suicides, si docilement.
Je te mourrai pourtant un jour.
Je connaîtrons cette femme idéale
et lentement je neigerai sur sa bouche.
Et je pleuvrai sans doute même si je fais tard,
même si je fais beau temps.
Nous aimez si peu nos yeux
et s'écroulerai cette larme sans
raison bien entendu et sans tristesse.
Sans.
AU MOCASSIM O VERBO
Me suicidas, tão docilmente.
Te morrerei, contudo, um dia.
Eu conheceremos a mulher ideal
e, lentamente, nevarei em sua boca.
E choverei, sem dúvida, mesmo que tarde,
mesmo que eu faça bom tempo.
Nós ameis tão pouco os olhos
e verterei uma lágrima sem
razão, é claro, e sem tristeza.
Sem.
LE CARRÉ POINTU
Le carré a quatre côtés
Mais il est quatre fois pointu
Comme le Monde.
On dit pourtant que la terre est ronde
Comme ma tête
Ronde et monde et mappemonde :
Un anticyclone se dirigeant vers le nord-ouest...
Le monde est rond, la terre est ronde
Mais elle est, mais il est
Quatre fois pointu
Est Nord Sud Ouest
Le monde est pointu
La terre est pointue
L’espace est carré.
O QUADRADO PONTUDO
O quadrado tem quatro lados
Mas é quatro vezes pontudo
Como o Mundo.
Diz-se, contudo, que a terra é redonda
Como a minha cabeça
Redonda e mundo e mapa-múndi:
Um anticiclone indo ao noroeste...
O mundo é redondo, a terra é redonda
Mas ela é, mas ele é
Quatro vezes pontudo
Leste Norte Sul Oeste
O mundo é pontudo
A terra é pontuda
O espaço é quadrado.
et monde et mappem
Tradução: Jorge Lúcio de Campos
Leia também outras traduções do poeta, feitas por Eclair Antonio Almeida Filho.
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Robert Desnos (1900-1945), poeta francês. Após concluir os estudos básicos, ingressou numa escola comercial, que abandonou aos 16 anos de idade. Trabalhou numa farmácia parisiense, na juventude, escrevendo poemas nas horas livres, que passou a publicar a partir de 1918 no jornal Tribune des Jeunes. No ano seguinte, trabalha como gerente de uma editora. Conhece André Breton e o movimento dadaísta. Em 1920, é chamado para cumprir o serviço militar, servindo no Marrocos. Em 1922, publica seu livro de estréia, Rrose Selavy, e adere ao surrealismo. Nos anos seguintes, publica Language Cuit(1923) e Deuil par Deuil(1924) e assume o cargo de redator da revista La Révolution Surréaliste. Por se recusar a aderir ao Partido Comunista Francês, é criticado por seus colegas no movimento surrealista, com o qual rompe pouco depois. Desnos atuou em diferentes ocupações profissionais na área imobiliária, como locutor de folhetins radiofônicos, redator publicitário e cançonetista. Com o início da II Guerra Mundial, alista-se novamente no exército francês para combater os nazistas. Após a derrota francesa, ingressa na Resistência. Aprisionado em 1944, é enviado para o campo de concentração de Auschwitz, e depois para o de Terezin. Contraindo febre tifóide, morre em 1945, pouco antes da libertação do campo pelas tropas aliadas. Em 1953, foi publicado o livro Domaine public, que reúne o essencial da sua obra poética. |