HORÁCIO COSTA
NA AVENIDA DAS AMÉRICAS
Num terreno baldio
ao lado do leito carroçável
desta Avenida das Américas
abandonaram telhas marselha
quebradas e tijolos e bóiam
plásticos e demais eventos
do lixo.
A chuva empoçou a superfície arenosa.
Os tufos de mato estão semi-
submersos na água suja.
O trânsito ao lado, contínuo.
Por este terreno não cruzam pedestres.
Será salobra esta água não dadora de vida.
Sem embargo, cruzam o ar duas
libélulas que resvalam a água
e sobre esta paisagem
instauram uma ordem outra:
o dejeto rebrilha
como cenário de Tiffany
e torna-se um suporte
da ópera.
Rio de Janeiro, 16 I 2010
EDIFÍCIO COPAN
A Vanderley Mendonça
A minha cidade me substitui
Perfeitamente.
Então, para que ser eu
Se puder ser ela?
Observo o vaivém dos guris
Com bonés ao contrário.
Passam quatro bibas renitentes.
Você toma o café dito
Orfeu.
Fez-se o poema:
Não fui eu.
SP 5 XI 08
*
Horácio Costa, poeta, tradutor e ensaísta, nasceu em São Paulo (SP), em 1954. Publicou, entre outros livros, 28 Poemas / 6 contos (1981), Satori (1989), O Livro dos Fracta (1990), The Very Short Stories (1991), O Menino e o Travesseiro (1998), Quadragésimo (1999), Fracta (2005), entre outros títulos.
Leia outros poemas de Horácio Costa e um ensaio de Contador Borges sobre o autor. |