Sete
O sal da saudade
instantes antes da chuva
quando e ainda dependura
no sobre ou senão
das coisas descalças
E de repente
o abrir da cavidade -
é na função sintática da queda
que se assalta o chão
e suas virtudes
*
Prostram-se os dias
e o que neles há das águas
Espaço pulmonar de não poder
através e quando
o texto ósseo dos dedos
Lenta e novamente
dobra-se a luz
dobram-se as pernas
O em volta e tangente
ao pé do ouvido te dizer
*
A gravidade
posto o peso
esquerdo das palavras
à espera da areia
e dentro da altura
Semelhante desenho do oxigênio
a direção da pausa -
prosseguir
embora em subentendida calma
verso a verso teus insetos
*
Lugar comum da boca
o sulco que os nomes deixam
Dar e não receber
maiúsculo e mesmo assim
o ainda dessa água
Na iminência dos músculos
a promessa prepara
o motivo remoto do que desce
Teu tanto vindo até
mim -
a areia num dos cantos desta página
*
Juntam-se aos insetos
diversos recursos
uns mais dispersos
a maioria não
Desatadas as coisas descalças
e o que cai no que se diz
o senão põe aqui o sal e o sim
da última mudança de andamento
De cima contra o círculo
de giz
a inversa dor do céu o chão caber
*
Talvez
o tempo
decantando o movimento
separe dentro com pequenos dedos
a queda
do que ainda cai
Providência e precaução
que não livram no entanto
teu percurso
do invisível resumo deste chão
Desvão
como
uma boca que dissesse, não o
seu nome, mas o nome do seu convite
Lúcio Cardoso
O vir pela calha
derrama por sobre
ti teu próprio encontro
No entanto que é da
cor destas paredes
fechando o caminho
das linhas da mão
Dói em ti e em mim
desaguar-se no
desvão desta casa
*
Dentro de tal nome
porque não sei como
a casa é mais que isso
Vermelho e sem cor
o abraço bem-vindo
na espera do atraso
desses passos dados
calçados em vão
Alguém te convida
- entrar é preciso
*
E assim se apresentam
no chão disso tudo
tuas unhas roídas
por quantas palavras
por quantos desvãos
Assim esse nome
dito por quem chega
Quanto desengano
o no entanto de água
que há diante de ti
*
Conhece-te então
o céu e o desvão
de toda alegria
Isto que estaria
numa mesa posta
em ti aos domingos
Conhece pois tua
submersa estória -
sorriso espremendo
os dentes e o rosto
*
Do invisível no
papel é possível
notar um espelho
d'água aparecer
Que tal essa imagem
abrindo e fechando
as mesmas palavras
Que tal isso assim -
enfim refletida
boquiaberta a flor
*
No corpo fechado
da felicidade
enquanto e por isso
a casa é aberta
Deixadas aqui
como quem espera
devagar as sílabas
tocam toda a flor -
mediatriz da mesa
em franco dispor
*
Ainda que fique
um quê de saudade
no que não existe
há sempre uma voz
que leva o que pode
das coisas que ficam
No verso e na casa
a álgebra das pétalas
ao chão sabor da
dormência na língua
*
Instantes depois
o que for insiste
Não fosse o poema
teu nome seria
pudesse o no entanto
leonardo gandolfi
ainda porque
desfeito o desvão
o gesto é o mesmo -
a mão estendida