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ARMANDO ROA VIAL

 

DESDE UN ANÓNIMO IRLANDÉS DEL SIGLO IX:
LA CANCIÓN DEL ERMITAÑO

Sin pugnas ni vanidades,
ajeno a los hombres,
gozo de los dones del desterrado
en medio del bosque,
con mi corazón alzándose
como una iglesia apacible donde moran
mis amados recuerdos, en la tierra fronteriza del tiempo,
para memoria de mis mayores.
Ya nadie hay entre los vivos que sea digno de mi corazón:
afligido de mi patria, después de enterrar a mi Senõr,
vagué sin rumbo sobre el gélido regazo de las olas,
entre mudos fantasmas de marineros
atados a las congojas del mar,
aislados del mundo por la espuma y la niebla.
Demasiado angosta es la tumba
para quien ha hecho de la vida acumulación de soledades
entre vinos, manjares y mujeres,
con su bienvenida y su abundancia.
Por eso, ahora, cuando todos mis sueños se retiran agobiados,
me encumbro en la copa de los árboles
y dejo que mi muerte blandamente incendie el aire
con el escuálido gorjeo de los pájaros.

 

DE UM ANÔNIMO IRLANDÊS DO SÉCULO IX:
A CANÇÃO DO ERMITÃO

Sem lutas nem vaidades,
alheio aos homens,
desfruto os dons do desterrado
no meio do bosque,
com meu coração erguendo-se
como uma igreja aprazível onde moram
minhas amadas lembranças, na terra fronteiriça do tempo,
para memória de meus maiores.
Já ninguém há entre os vivos que seja digno de meu coração:
aflito por minha pátria, depois de enterrar a meu Senhor,
vaguei sem rumo sobre o gélido regaço das ondas,
entre mudos fantasmas de marinheiros
atados às lamúrias do mar,
ilhados do mundo pela espuma e pela névoa.
Demasiado estreita é a tumba
para quem fez da vida acumulação de solitudes
entre vinhos, manjares e mulheres,
com sua bem-vinda e sua abundância.
Por isso, agora, quando todos meus sonhos recuam, aflitos,
me oculto na copa das árvores
e deixo que minha morte brandamente incendeie o ar
com o esquálido gorjeio dos pássaros.

 

Tradução: Claudio Daniel

 

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Armando Roa Vial, poeta chileno, nasceu em Santiago, em 1966. Publicou, entre outros títulos, Ezra Pound: Homenaje desde Chile (antologia, em co-autoria com Armando Uribe, com ensaios e traduções, 1995), Elogio de la Melancolía (ensaios, 1999), El Navegante (tradução do poema anglo-saxão, 1999), Zarabanda de la Muerte Oscura (poesia, 2000, Prêmio Nacional de Poesia da Associação de Críticos de Arte) e Estancias en Homenaje a Gregorio Samsa (poesia, 2001). É membro do conselho editorial da revista Zunái.

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