OS FANTÁSTICOS
LIVROS DE PRÓSPERO*
Peter Greenaway
Os roteiros que o cineasta
britânico Peter Greenaway escreve para seus filmes quase
sempre incluem textos narrativos ou poéticos que desviam
o leitor para um topos que escapa às demarcações
do gênero e se abre para o campo da criação
literária. Roteiros como, por exemplo, os de seus primeiros
curtas ou o do longa-metragem The Falls, de 1980, chegam a
ser inteiramente narrativos, configurando-se quase como novelas
ou coleções de contos, que longe de apenas traçar
textualmente as diretrizes para a realização
dos filmes, assumem sua própria autonomia enquanto
texto.
O livro que se apresenta
com roteiro do filme Prospero´s Books (A última
tempestade) é um compósito de diferentes modalidades
textuais. Além de um ensaio do cineasta sobre o processo
de criação do filme, pequenas narrativas ficcionais
construídas a partir de alguns motivos shakespeareanos
extraídos da peça A Tempestade, na qual o filme
é baseado, vêm compor o conjunto, ao lado de
reproduções do próprio texto de Shakespeare
e da presença de várias imagens extraídas
do repertório canônico da história da
arte ocidental
Dentre os textos literários
que integram o volume, destaca-se a descrição
que o cineasta faz dos 24 livros fantásticos que Próspero,
o desterrado Duque de Milão, teria levado para o exílio,
ao ser forçado a deixar seu ducado e partir pelo mar
com a filha Miranda. Tais livros, de inegável feição
borgiana, teriam ajudado o personagem a enfrentar o naufrágio,
encontrar e colonizar a ilha onde passa a viver, povoá-la
com espíritos e espelhos, educar a filha Miranda e
escrever a própria história da qual é
personagem.
É a descrição desses livros de Próspero/Greenaway
que se segue, em tradução.
Estes são os vinte
e quatro livros que Gonzalo apressadamente lançou dentro
da nau de Próspero, quando este foi arrastado ao mar
para começar seu exílio. Tais livros possibilitaram
que Próspero encontrasse seu caminho através
dos oceanos, combatesse a perversidade de Sycorax, colonizasse
a ilha, libertasse Ariel, educasse e distraísse Miranda,
convocasse tempestades e domasse seus inimigos.
Maria Esther Maciel
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* Fragmento
do roteiro de Prospero's books, publicado originalmente no
livro: GREENAWAY, Peter. Prospero's books - a film of Shakespeare's
The Tempest. London: Chatto & Windus, 1991, p. 17-25.
1. O Livro
da Água
Este é um livro
de capa impermeável, que perdeu sua cor pelo demasiado
contato com a água. É repleto de desenhos investigativos
e textos exploratórios escritos em diferentes espessuras
de papel. Há desenhos de todas as associações
aquáticas concebíveis: mares, tempestades, chuvas,
neve, nuvens, lagos, cachoeiras, córregos, canais,
moinhos d'água, naufrágios, enchentes e lágrimas.
À medida que as páginas são viradas,
os elementos aquáticos se animam continuamente. Há
ondas turbulentas e tempestades oblíquas. Rios e cataratas
fluem e borbulham. Planos de maquinaria hidráulica
e mapas meteorológicos tremulam com setas, símbolos
e diagramas agitados. Os desenhos são todos feitos
à mão. Talvez seja essa a coleção
perdida de desenhos de Da Vinci, encadernada em livro pelo
Rei da França em Amboise e comprada pelos duques milaneses
para dar a Próspero como presente de casamento.
2. Um Livro de Espelhos
Encadernado em tecido
de ouro e bastante pesado, este livro tem umas oitenta páginas
espelhadas e brilhantes: algumas foscas, outras translúcidas,
algumas manufaturadas com papéis prateados, outras
revestidas de tinta ou cobertas por um filme de mercúrio
que pode rolar para fora da página se não for
tratado com cautela. Alguns espelhos simplesmente refletem
o leitor, alguns refletem o leitor tal como ele era há
três minutos, alguns refletem o leitor tal como ele
será em um ano, como seria se fosse uma criança,
uma mulher, um monstro, uma idéia, um texto ou um anjo.
Um espelho mente constantemente; outro espelho vê o
mundo de frente para trás; outro, de cima para baixo.
Um espelho retém seus reflexos como se fossem momentos
congelados infinitamente relembrados. Outro simplesmente reflete
um outro espelho através da página. Há
dez espelhos cujos propósitos Próspero ainda
precisa definir.
3. Um Livro de Mitologias
Este é um livro
grande. Em algumas ocasiões, Próspero o descreveu
como tendo quatro metros de largura e três metros de
altura. É encadernado em um pano amarelo brilhante
que, quando polido, reluz como latão. Trata-se de um
compêndio, em texto e ilustração, de mitologias
com todas suas variantes e versões alternativas; ciclo
após ciclo de estórias entrecruzadas, que tratam
de deuses e homens de todo o mundo conhecido - do Norte gelado
aos desertos da África -, com leituras explicativas
e interpretações simbólicas. De reconhecida
autoridade, suas informações são as mais
ricas que há no Leste Mediterrâneo, na Grécia
e na Itália, em Israel, em Atenas e Roma, Belém
e Jerusalém, onde são suplementadas com genealogias
naturais e não-naturais. Para o olhar moderno, o livro
é uma combinação das Metamorfoses
de Ovídio, O ramo de ouro de Frazer e O livro
dos mártires de Foxe. Cada estória ou anedota
tem uma ilustração. Usando esse livro como um
glossário, Próspero pode reunir, se assim desejar,
todos os deuses e homens que alcançaram fama ou infâmia
através da água ou através do fogo, através
do engano, em associação com cavalos ou árvores
ou porcos ou cisnes ou espelhos, orgulho, inveja ou gafanhotos.
4. Uma Cartilha das
Pequenas Estrelas
Este é um guia
de navegação pequeno, escuro e com capa de couro.
É um livro repleto de mapas dos céus da noite,
os quais, ao se desdobrarem, caem para fora da página,
desmentindo o tamanho modesto do livro. Por retratar a imagem
do céu refletida nos mares do mundo quando estes repousam,
está cheio de manchas que indicam onde as massas de
terra do globo interromperam o espelho oceânico. Isso,
para Próspero, foi de grande utilidade, pois dirigindo
sua nau avariada para uma dessas pequenas falhas no mar de
estrelas, ele encontrou sua ilha. Quando abertas, as páginas
da cartilha cintilam com planetas viajantes, meteoros lampejantes
e cometas giratórios. Os céus negros pulsam
com números vermelhos. Novas constelações
se enfeixam repetidamente através de ágeis linhas
pontilhadas.
5. Um Atlas Pertencente
a Orfeu
Revestido de uma capa
de lata verde-laqueada, com superfície gasta e queimada,
este atlas é dividido em duas seções.
A primeira é repleta de grandes mapas de viagem e manuais
de música do mundo clássico. A segunda, de mapas
do inferno. O livro foi usado quando Orfeu viajou ao mundo
subterrâneo em busca de Eurídice. Daí
que os mapas se encontrem chamuscados e tostados pelo fogo
do inferno e marcados pelas mordidas de Cérbero. Quando
o atlas é aberto, os mapas borbulham em piche. Avalanches
de cascalhos frouxos e de areia fundida caem de suas páginas
e crestam o chão da biblioteca.
6. Um Livro Duro de
Geometria
É um livro volumoso,
de cor marrom, encapado em couro e gravado com números
dourados. Quando aberto, complexos diagramas geométricos
em três dimensões saltam das páginas,
como em um livro pop-up. As páginas piscam com
figuras e números logarítmicos. Os ângulos
são medidos por finíssimos pêndulos de
metal que balançam livremente, ativados por ímãs
ocultos no papel espesso.
7. O Livro das Cores
É um livro grande,
encadernado em seda carmesim. É mais largo que alto
e, quando aberto, as páginas duplas se estendem, formando
um quadrado. Trezentas páginas cobrem o espectro de
cores com matizadas sombras que se movem do negro de volta
ao negro. Quando aberto em sua dupla extensão, a cor
evoca tão fortemente um lugar, um objeto, uma posição
ou uma situação, que a sensação
sensorial correspondente é experimentada de forma direta.
Assim, uma reluzente laranja amarela é a entrada para
um vulcão e um verde-azul escuro é a lembrança
de um mar profundo onde peixes e enguias nadam e espirram
água na face do leitor.
8. A Anatomia do Nascimento,
de Versalius
Versalius produziu o primeiro
livro autorizado de anatomia, que é surpreendente em
seus detalhes e macabro em sua singularidade. Este Anatomia
do Nascimento - um segundo volume, hoje desaparecido -
é ainda mais perturbador e herético. Concentra-se
nos mistérios do nascimento. É cheio de desenhos
descritivos dos trabalhos do corpo humano, os quais se movimentam,
pulsam e sangram quando as páginas se abrem. É
um livro proibido, que questiona os processos desnecessários
de envelhecimento, deplora os desgastes associados à
procriação, condena as dores e os desconfortos
do parto, além de questionar, em termos gerais, a eficiência
de Deus.
9. Um Inventário
Alfabético dos Mortos
É um volume funéreo,
longo e delgado, encadernado em lâminas de prata. Contém
todos os nomes dos mortos que viveram na terra. O primeiro
nome é de Adão e o último de Susana,
mulher de Próspero. Os nomes são escritos em
diversas tintas e caligrafias, estando dispostos em longas
colunas que ora refletem o alfabeto, ora a cronologia histórica.
No entanto, as taxonomias utilizadas são, freqüentemente,
de decifração tão complicada, que você
poderá pesquisar anos e anos à procura de um
nome que, com certeza, estará lá. As páginas
do livro são muito antigas e trazem, em marcas d´água,
uma série de desenhos de tumbas e columbários,
lápides elaboradas, sepulturas, sarcófagos e
outras loucuras arquiteturais para os mortos, sugerindo que
o livro servia a outros propósitos, mesmo antes da
morte de Adão.
10. O Livro dos Relatos
de Viajantes
Este é um livro
que está muito danificado, como se usado em demasia
por crianças que o estimaram. A capa de couro carmesim,
arranhada e corroída, que um dia fora incrustada com
um desenho figurativo de ouro, está agora tão
surrada que suas configurações tornaram-se ambíguas,
provocando muita especulação. O livro contém
aqueles prodígios inacreditáveis que os viajantes
contam. "Homens cujas cabeças saem dos peitos",
"mulheres barbadas, chuvas de sapos, cidades de gelo
roxo, camelos que cantam, gêmeos siameses", "alpinistas
gotejantes de orvalho, como touros". É cheio de
ilustrações e tem pouco texto.
11. O Livro da Terra
Um livro volumoso coberto
por uma membrana de cor cáqui. Suas páginas
são impregnadas de minerais, ácidos, alcalinos,
substâncias, gomas, venenos, bálsamos e afrodisíacos
da terra. Risque uma grossa página escarlate com a
unha de seu polegar para incitar fogo. Passe a língua
no cinza de uma outra página para trazer a morte por
envenenamento. Ponha a página seguinte de molho na
água para curar o antraz. Mergulhe uma outra em leite
para fazer sabão. Esfregue duas páginas ilustradas
uma na outra para fazer ácido. Encoste sua cabeça
em outra página para mudar a cor de seu cabelo. Com
este livro, Próspero saboreou a geologia da ilha. Com
sua ajuda, dela extraiu sal e carvão, água e
mercúrio, e também ouro, não para sua
bolsa, mas para sua artrite.
12. Um Livro de Arquitetura
e Outras Músicas
Quando as páginas
são abertas neste livro, planos e diagramas saltam
completamente formados. Há modelos definitivos de prédios
constantemente escurecidos por uma nuvem de sombras móveis.
Praças de mercado se enchem e se esvaziam de multidões
ruidosas, luzes piscam na paisagem noturna da cidade, ouve-se
música nos salões e nas torres. Com este livro,
Próspero reconstruiu a ilha, convertendo-a em um palácio
cheio de bibliotecas que recapitulam todas as idéias
arquitetônicas da Renascença.
13. As Noventa e Duas
Concepções do Minotauro
O livro reflete sobre
a experiência do Minotauro, a mais célebre estirpe
da bestialidade. Ele traz uma impecável mitologia clássica
para explicar procedências e "pedigrees" que
incluem Leda, Europa, Dédadus, Teseu e Ariadne. Caliban,
que assim como os centauros, as sereias, as harpias, a esfinge,
os vampiros e os lobisomens, é um filho da bestialidade,
teria grande interesse nesse livro. Zombando d'As Metamorfoses
de Ovídio, ele conta a estória de noventa e
dois híbridos. Na verdade, deveriam ter sido contadas
cem, mas o puritano Teseu, que já tinha ouvido o bastante,
aniquilou o Minotauro antes que este tivesse terminado. Quando
aberto, o livro exala um vapor amarelo e cobre os dedos do
leitor com um óleo negro.
14. O Livro das Línguas
Este é um livro
grande e alentado, com uma capa verde azulada que se turva
como um arco-íris sob a luz. Mais uma caixa que um
livro, abre-se de maneira não-ortodoxa, por ter uma
porta na capa. Dentro, encontra-se uma coleção
de oito livros menores, dispostos como garrafas em uma maleta
médica. Por trás desses oito livros há
outros oito, e assim por diante. Abrir os livros menores é
liberar muitas línguas. Palavras e sentenças,
parágrafos e capítulos se juntam como girinos
de um lago em abril ou pássaros nos céus noturnos
de novembro.
15. Plantas Plenas
Parecido com um tronco
de madeira antiga e curada, este é um herbário
que põe fim a todos os herbários, tratando das
mais veneráveis plantas que governam a vida e a morte.
É um tijolo de livro, com uma capa de madeira envernizada
que já foi, e provavelmente ainda é, habitada
por minúsculos insetos subterrâneos. As páginas
são recheadas de plantas e flores prensadas, corais
e algas marinhas, sendo que em torno do livro pairam borboletas
exóticas, libélulas, mariposas esvoaçantes,
besouros reluzentes e uma nuvem de pólen dourado. É,
simultaneamente, um favo de mel, uma colméia, um jardim
e uma arca de insetos. É uma enciclopédia de
pólen, perfumes e feromônio.
16. Um Livro do Amor
Este é um volume
pequeno, fino e aromático, encadernado em ouro e vermelho,
com laços de fita escarlate para marcar as páginas.
No livro vê-se a imagem de um homem e uma mulher nus,
bem como a imagem de um par de mãos entrelaçadas.
Essas coisas foram, certa vez, vislumbradas brevemente em
um espelho, e esse espelho estava em um outro livro. O resto
é conjetura.
17. Um Bestiário
de Animais do Passado, do Presente e do Futuro
É um livro grande,
um dicionário de animais reais, imaginários
e apócrifos. Com esse livro, Próspero é
capaz de reconhecer onças e sagüis, morcegos-das-frutas,
manticoras e dromecélios, o cameleopardo, a quimera
e o catoblepas.
18. O Livro das Utopias
Este é um livro
das sociedades ideais. Encadernado em capa de couro dourado
e contracapa de ardósia negra, contém quinhentas
páginas, seiscentos e sessenta e seis verbetes indexados
e um prefácio de Sir Thomas Moore. O primeiro verbete
é uma descrição convencional do Céu,
e o último, uma descrição do Inferno.
Haverá sempre alguém na Terra cuja utopia ideal
será o Inferno. Nas páginas restantes do livro,
toda comunidade política e social conhecida e imaginada
é descrita e avaliada, e vinte e cinco páginas
são dedicadas a tabelas nas quais as características
de todas as sociedades podem ser discriminadas, permitindo
ao leitor selecionar e combinar aquelas que formem sua utopia
ideal.
19. O Livro da Cosmografia
Universal
Repleto de diagramas impressos,
de grande complexidade, este livro é uma tentativa
de colocar todos os fenômenos universais em um mesmo
sistema. Os diagramas são gravados nas páginas:
figuras geométricas ordenadas, anéis concêntricos
que rodam e contra-rodam, tabelas e listas organizadas em
espirais, catálogos dispostos em um corpo humano simplificado
que, ao se mover, coloca as listas em nova ordem, movimentando
os diagramas do sistema solar. O livro oferece uma mistura
do metafórico com o científico e é dominado
por um grande diagrama que mostra a União do Homem
e da Mulher - Adão e Eva - em um universo bem estruturado,
no qual todas as coisas têm seu lugar demarcado e a
obrigação de serem profícuas.
20. Amor das Ruínas
Um manual de antiquário,
um inventário do mundo antigo para os humanistas da
Renascença interessados em antigüidades. É
repleto de mapas e planos dos lugares arqueológicos
do mundo, como templos, cidades e portos, cemitérios
e estradas antigas, contendo também as medidas de cem
mil estátuas de Hermes, Vênus e Hércules,
descrições de cada obelisco e pedestal do Mediterrâneo
conhecido, planos das ruas de Tebas, Óstia e Atlântida,
um diretório dos pertences de Sejanus, as lousas de
Heráclito e as assinaturas de Pitágoras. É
um volume essencial para o historiador melancólico
que sabe que nada perdura. Suas proporções são
como as de um bloco de pedra, quarenta por trinta e por vinte
centímetros. A cor é de mármore azul
estriado. Arenoso ao toque, tem páginas rijas e crespas,
impressas em fontes clássicas que não possuem
o W nem o J.
21. As Autobiografias
de Pasífae e Semíramis
Uma pornografia. É
um volume enegrecido e manuseado, cujas ilustrações
são levemente ambíguas em relação
ao conteúdo. O livro é encadernado em couro
curtido de cor negra e tem capas de chumbo danificadas. As
páginas são cinza-azuladas e salpicadas de um
pó verde lodoso, fios de cabelo crespo, manchas de
sangue e outras substâncias. Uma ligeira nesga de vapor
ou fumaça levanta-se das páginas quando o livro
é aberto, sendo que este se mantém aquecido
- como se contivesse o exíguo calor que aparentemente
envolve o gesso que seca ou as pedras lisas depois que o sol
se põe. As páginas deixam manchas ácidas
nos dedos de quem as manuseia e é aconselhável
usar luvas para ler o volume.
22. Um Livro do Movimento
Este é um livro
que, em um nível mais elementar, descreve como os pássaros
voam, as ondas encrespam, as nuvens se formam e as maçãs
caem das árvores. Descreve ainda como o olho muda de
forma quando olha a longa distância, como os pêlos
crescem em uma barba, como o riso transfigura um rosto e por
que o coração bate e os pulmões inflam
involuntariamente. Em um nível mais complexo, ele descreve
como as idéias perseguem umas as outras na memória
e para onde vai o pensamento depois que o pensamos. O livro
é coberto por um resistente couro de cor azul e, por
estar sempre se abrindo subitamente por sua própria
vontade, encontra-se envolvido por duas tiras de couro, atadas
com força na espinha dorsal. À noite, o livro
se debate contra a estante e tem de ser contido por um peso
de metal. Uma de suas seções se intitula "A
Dança da Natureza", na qual podem ser encontradas
todas as possibilidades de dança para o corpo humano,
codificadas e explicadas em desenhos animados.
23. O Livro dos Jogos
Este é um livro
de tabuleiros de jogos com infinitas possibilidades de uso.
O xadrez é um dentre os milhares de jogos do volume,
ocupando apenas duas páginas, a 112 e a 113. O livro
contém tabuleiros para serem jogados com fichas e dados,
cartelas, bandeiras e pirâmides em miniatura, pequenas
reproduções de deuses do Olimpo, ventos em vidros
coloridos, profetas do Antigo Testamento feitos de osso, bustos
romanos, os oceanos do mundo, animais exóticos, peças
de coral, cupidos de ouro, moedas de prata e pedaços
de fígado. Os tabuleiros de jogos representados no
livro abarcam tantas situações quantas experiências
houver. Há jogos de morte, de ressurreição,
amor, paz, fome, crueldade sexual, astronomia, da cabala,
de estratégias, das estrelas, de destruição,
do futuro, de fenomenologia, mágica, retribuição,
semântica, evolução. Há tabuleiros
com triângulos vermelhos e negros, diamantes cinzas
e azuis, páginas de texto, diagramas do cérebro,
tapetes persas, tabuleiros em forma de constelações,
animais, mapas, viagens ao Céu e viagens ao Inferno.
24. Trinta e Seis Peças
É um grosso volume
impresso de peças teatrais datadas de 1623. Todas as
trinta seis peças estão lá, menos uma:
a primeira. Dezenove páginas foram deixadas em branco
para a sua inclusão. Ela é chamada "A Tempestade".
O fólio é modestamente encadernado em linho
verde-escuro, com uma capa de papelão onde se destacam
as iniciais do autor, gravadas em ouro: W.S.
*
Tradução:
Maria Esther Maciel
*
Leia também:
O
Livro de Cabeceira de A a Z , Janelas
, A
Clausura dos Animais , Três
Contos , Azul ,
Filmografia
de Peter Greenaway e conheça a iconografia
de seus trabalhos.
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